por Sebastião Nery
PARIS
– O pai, africano, foi brigar no Vietnam como soldado francês. Acabou a guerra,
voltou, o filho nasceu em Paris e foi ser motorista de táxi. Um cidadão francês
negro. Tinha pavor de Sarkozy, o candidato da direita à Presidência da República
nas eleições de abril de 2007 aqui na França (segundo turno em maio), quando me
contou sua historia, trazendo –me do aeroporto para o hotel. Pôs uma musica de
Gal Costa “em homenagem ao Brasil” e continuou seu discurso:
- “Sou um cidadão francês igual a Sarkozy. Filho de pai africano e mãe
francesa. Ele é filho de pai húngaro e mãe grega judia. Mas, se ele pudesse, eu
seria expulso da França como “imigrante” só porque sou negro. Ele é um racista.
Tem horror de negro, de árabe, de muçulmano, de latino americano. Se for
presidente, primeiro vai querer proibir novos imigrantes de entrarem
aqui. Depois, vai querer mandar embora os que já estão
aqui”.
DIREITA
O motorista entrou logo na campanha eleitoral:
-“A direita aqui sempre foi maior do que a esquerda. Só perde quando se
divide e a esquerda se une. Mitterrand ganhou em 1981 e 1988 porque a direita se
dividiu. Mas a direita que aqui nós chamamos de “civilizada”, como De Gaulle,
Pompidou, Giscard d’Estaing, Chirac, não mete medo ao povo. Mas esse Sarkozy,
não. Estamos todos com medo dele. Pode querer repetir o que fez em janeiro de
2006 contra os imigrantes.
- Mas a culpa foi dele?
- Foi, sim, e esta ele não vai conseguir tirar das costas. Ele era o
ministro do Interior, mandava na polícia, que chegou aos bairros negros e árabes
batendo nos jovens e prendendo. A reação popular veio na hora, queimaram
milhares de carros. Ele, ministro, foi lá e, em vez de acalmar, chamou o povo de
“gentalha” e “escoria”. Um dia a resposta virá.
O BERLUSCONI
Pela
janela do táxi eu lia manchetes dos jornais coladas nas bancas:
1.-
“Sarkozy consegue dizer uma coisa e o contrário ao mesmo tempo, sem que seus
seguidores duvidem de nenhuma das duas”.
2.- “Sarkozy e Berlusconi são muito parecido por suas ligacoes com os
bancos, os grandes poderes financeiros, os negócios e interesses da imprensa.
Sarkozy vai concentrar o poder como ninguém antes, vai agravar as diferenças do
tecido social, aplicando uma política em benefício dos mais ricos. Atrás dele
estão sempre os poderes do dinheiro”.
Mesmo assim ele ganhou em 2007, a direita unida com ele.
HUNGARO
Depois de cinco anos Presidente, é preciso buscar na
biografia dele a explicação para a sua vitoria de 2007 e o desastre se sua
derrota de agora.
Se você o encontrar numa rua de Brasília pensará que é o
ex-senador Luis Estevão, mais baixo, o olhar mais agitado, as mãos
agitadíssimas. Mistura de Luis Estevão com Berlusconi. “Baixinho
abusado” como se diz na Bahia. Cara de ourives ou relojoeiro de Budapeste, como
nos filmes.
Jovem, 57 anos (nasceu em Paris em 28 de janeiro de 55), filho de húngaro
fugido do regime comunista da Hungria, foi criado em Paris com mais 3 irmãos,
pela mãe e pelo avô materno, brilhante médico grego-judeu.
Na universidade, estudante de Direito, já era de direita. Entrou para a
política e nunca mais fez outra coisa. Logo se ligou aos líderes mais
conservadores e mais poderosos da direita francesa: Charles Pasqua,
Eduard Baladur, Jacques Chirac, ministros, primeiro-ministros,
presidentes da República. Servia a cada um de cada vez e sem escrúpulo
nenhum.
Vereador
de Neuilly em 1975, prefeito de Neuilly em 83, deputado federal em 88, ministro
do Orçamento e porta voz do governo Baladur em 93, ministro do
Interior de Chirac em 2002 e da Economia em 2004, presidente do partido
governista UMP em 2004 e Presidente em 2007.
A DERROTA
Com o apoio absoluto de uma direita poderosa como a da França, como é que
perdeu o primeiro turno? Por traição. Sarkozy traiu a França escandalosamente e
está pagando o preço. Presidente, preferiu servir aos Estados
Unidos, Israel, Alemanha, Inglaterra, banqueiros e grandes grupos
financeiros,jornalísticos.Começa a perder de Francois Hollande de 28 a
25. Sarkozy
pensou que enganaria a França. Está saindo humilhado.
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