quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Violência no Brasil: 50 vezes mais mortos que na Faixa de Gaza

Human Rights Watch condena "crise de segurança pública" que resulta em 50 mil homicídios por ano. Para ONG, violações em presídios, tortura, trabalho forçado e ameaças a indígenas e sem-terra no campo continuam recorrentes
A organização não-governamental (ONG) Human Rights Watch divulgou o seu relatório anual que traça um panorama das violações dos direitos humanos no mundo. A "crise da segurança pública" - que, , segundo a entidade, afeta especialmente comunidades pobres de grandes cidades e é perpretada pela ação de gangues criminosas e pelo abuso policial - aparece como um dos principais destaques da seção sobre o Brasil.

Leia a íntegra da seção do relatório sobre o Brasil

Luis Mir: "Guerra civil vai se aprofundar no Brasil"

Eliano Jorge - Terra

O notíciário nacional e internacional estampou as cenas dos confrontos entre policiais e traficantes no Rio de Janeiro, semeando discussões sobre uma suposta guerra carioca desde a semana passada. Mas, consultado, o pesquisador Luís Mir, especialista em violência, baixa a quentura: "Essa situação é a normal do Rio. Sua média semanal de mortes é de 40 a 50 pessoas."

Autor de livros sobre guerrilha e criminalidade, como A Revolução Impossível e Guerra Civil - Estado e Trauma, Mir enxerga a questão sob uma ótica perene, sem se abalar com acontecimentos recentes. Baseando-se no processo histórico, e não nas circunstâncias, ele considera que esta foi apenas uma das irrupções midiáticas da criminalidade na futura sede olímpica.

Porém, com uma diferença: "Pela primeira vez, o Estado sofreu um ataque forte, foi derrubado um helicóptero da principal força policial do Rio de Janeiro". E, por isso, o prognóstico é que a situação vai piorar. Não apenas na Cidade Maravilhosa, pois, ressalta Mir, "São Paulo é violentíssimo" também, e a criminalidade já se espalhou pelo País. Agora, "a regra é matar ou morrer."

- A tendência da guerra civil é se aprofundar porque nós não temos uma política de segurança social. Segurança pública no Brasil não é segurança social, que é educação, saúde, moradia, renda, salários dignos, enfim, dar condições para as pessoas viverem dignamente. (...) Então, precisamos de uma nova Lei Áurea, para libertar esses 120 milhões de brasileiros e torná-los cidadãos - declara Luís Mir.

No caso carioca, um detalhe particular baliza sua avalição: "Como 40% da polícia do Rio de Janeiro - tanto a militar quanto a civil - tem algum tipo de envolvimento com o tráfico de drogas, (o confronto) é um acerto de contas entre polícia e traficantes".

Além de considerar fundamental o combate à corrupção, Mir insiste em criticar a divisão entre Polícia Militar e Polícia Civil. "É uma coisa absurda, anacrônica, esquizofrênica, que tem que acabar, tem que ser feita uma polícia única, preventiva, judiciária, de segurança, usando os mesmos recursos."

Mas, para ele, o ponto fundamental encontra-se no Estado. "Enquanto a criminalidade não passa determinadas fronteiras, o Estado finge que não vê e, enquanto o Estado não ataca a crimininalidade, a criminalidade finge, digamos, que não vai atacar o que se chama sociedade."

NUMEROS DA GUERRA CIVIL URBANA NO BRASIL
Pesquisa do IBGE mostra que quase 600 mil brasileiros foram assassinados entre 1980 e 2000, índice que supera vários conflitos mundiais. As principais vítimas são os jovens das regiões metropolitanas.

Desemprego
Para Mesquita Neto, o desemprego é sem dúvida um fator importante e que contribui para o crescimento da criminalidade no País, embora seu impacto seja diferente para os jovens e para os adultos. ?O desemprego causa um desequilíbrio muito grande na estrutura da família e é um problema sério na relação com os filhos. Porém, podemos ter taxas equivalentes de pessoas desocupadas em duas comunidades, com reflexos diferentes dependendo do tipo de família e da comunidade em que ela está inserida ? por exemplo, se os filhos estão na escola e a realidade dessa escola?, diz.



Guerra Civil? em Salvador: 10 homicídios em 24 horas
Ataques contra PM e ônibus continuam em Salvador
Policiais militares iniciaram perseguição contra três suspeitos do ataque, que terminou com a morte deles

A Central de Telecomunicações (Centel) das Polícias Militar e Civil da Bahia registrou 10 homicídios em Salvador e Região Metropolitana, somente nas últimas 24 horas. Mas o final de semana foi muito mais violento.

Duas operações de policiais da Rondesp (Rondas Especiais) e da Rotamo (Rondas-Tático Motorizadas), terminaram com sete mortes em duas localidades do subúrbio de Salvador, em Alto do Bom Viver e Fazenda Coutos, entre a tarde de sábado (22) e a madrugada de domingo (23).

Durante a madrugada de domingo, segundo informações da Centel, uma troca de tiros entre policiais e suspeitos no Alto do Bom Viver resultou na morte de três pessoas. Duas delas já identificadas pelos policiais. São Jadson Azevedo, 22, e Manoel de Jesus Moura, 24.

No sábado (22), uma operação realizada por policiais militares da Rondesp e da Rotamo, no local conhecido como ?Casinhas?, em Fazenda Coutos, terminou com quatro mortos. Um adolescente foi executado a tiros perto de casa, neste domingo (23), na rua Teixeira Mendes, no bairro da Federação.

A Centel também registrou nas últimas 24 horas, três assaltos a ônibus, um linchamento, mais sete tentativas de homicídio e oito carros foram tomados em assalto nas ruas de Salvador.


GUERRA CIVIL EM MARCHA
Criminosos promovem 38 ataques em 11 horas em São Paulo

Criminosos promoveram, entre a noite de terça-feira (11) e a manhã desta quarta, ao menos 38 ataques em São Paulo, segundo balanço divulgado pelo governo Estadual. Os números se referem a ocorrências registradas das 20h às 7h e não incluem os ônibus queimados na capital, Grande São Paulo e litoral.
De acordo com o balanço, quatro pessoas foram mortas no período. De acordo com informações da polícia, o número pode chegar a cinco.
Na zona norte de São Paulo, homens armados balearam o soldado Odair José Lorenzi, 29, na frente de sua casa, na favela do Boi Malhado, na Vila Nova Cachoeirinha, por volta da 0h10. A irmã do policial, Rita de Cássia Lorenzi, 39, saiu à janela após ouvir os disparos e também foi baleada. Ambos morreram.
No Guarujá (litoral), três vigilantes foram mortos desde a noite de ontem. Um deles trabalhava no IML (Instituto Médico Legal), localizado no bairro de Morrinhos. Ele foi baleado ao atender a porta para os criminosos, que fugiram em bicicletas.
Meia hora depois, um grupo de homens pulou o muro de um centro comunitário do mesmo bairro e matou outro vigilante a tiros. As duas vítimas trabalhavam para a empresa de segurança GP.
Por volta das 5h, um grupo matou com um tiro no rosto o vigia da linha férrea, localizado na avenida Thiago Ferreira. Até as 8h, o corpo permanecia no local.
Na manhã desta quarta, um policial militar à paisana foi ferido a tiros na zona norte de São Paulo. Por volta das 11h30, ainda não havia detalhes sobre o caso.



Biscaia: Rio de Janeiro já vive clima de "guerra civil"
Diego Salmen

Ex-secretário nacional de Segurança Pública, o deputado federal Antonio Carlos Biscaia (PT-RJ) afirma que os recentes atos de violência demonstram que o Rio de Janeiro vive em clima de "guerra civil".

- Esse enfrentamento é muito complicado. E vem também o componente político: alguns governos não querem enfrentar pelo desgaste que pode provocar nessas áreas com eleitores de comunidades carentes. Mas chega um momento em que não há mais condição.

No último fim de semana, um confronto entre policiais militares e traficantes resultou em pelo menos 25 mortos no Morro dos Macacos, zona norte carioca. O incidente ganhou contornos de barbárie: um helicóptero da Polícia foi derrubado, e um corpo foi encontrado dentro de um carrinho de supermercado abandonado na região.

Homicídios em Porto Alegre crescem 57,5%
Entre as 13 maiores capitais do país, a cidade gaúcha lidera em aumento de assassinatos; somente em 2007 foram 430
Sucateamento da segurança, aumento do tráfico de drogas e da pobreza são apontados como as principais causas

GILMAR PENTEADO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE

Porto Alegre é a capital brasileira entre as 13 maiores do país onde o homicídio mais cresceu em 2007, apontam estatísticas das secretarias estaduais da Segurança Pública.
O número de mortes por agressão aumentou quase 60% em relação a 2006 e se tornou recorde da década na capital gaúcha. No ano passado, houve 430 homicídios na cidade, contra 273 em 2006 -aumento de 57,5%, segundo dados da Secretaria da Segurança Pública do Rio Grande do Sul.
As estatísticas da Delegacia de Homicídios de Porto Alegre, que atualiza os números a partir de suas investigações, revelam, no entanto, dados absolutos mais preocupantes: 525 homicídios contra 337 no ano anterior -crescimento de 55,7%.

Número de assassinatos aumenta 62%
Para autoridades, casos têm relação direta ou indireta com o tráfico de drogas
A série de homicídios do fim de semana acendeu a luz de alerta sobre a questão da criminalidade em Uberlândia. Somente no sábado foram sete assassinatos, em quatro bairros da cidade. Além das polícias Civil e Militar, entidades como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e o Poder Judiciário estão preocupados com o aumento dos crimes. Até ontem, foram registradas 127 mortes violentas na cidade, número 62% maior em relação ao mesmo período do ano passado.

Uberlândia é hoje a segunda maior cidade do estado e possui a segunda maior frota de veículos. É normal que a criminalidade aumente?, afirmou. Freitas informou que 30% de todos os crimes da cidade são solucionados e que, para isso, a participação da população é essencial. ?Contamos com as informações e envolvimento da sociedade para chegarmos aos criminosos?, disse.

O problema é a sensação de impunidade e banalização da vida, como percebemos em todo o país?, afirmou o coronel Dilmar Fernandes Crovato, chefe da 9ª Região da Polícia Militar. Ele disse que foi intensificado o trabalho de contenção à violência e apreensão das armas de fogo, que são os instrumentos utilizados para o crime. Nos últimos dois dias foram quatro apreensões?, afirmou.

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