sexta-feira, 31 de julho de 2009

Juca: futebol e religião não combinam....

Está ficando a cada dia mais insuportável o proselitismo religioso que invadiu o futebol brasileiro

Juca Kfouri

MEU PAI , na primeira vez em que me ouviu dizer que eu era ateu, me disse para mudar o discurso e dizer que eu era agnóstico: "Você não tem cultura para se dizer ateu", sentenciou.
Confesso que fiquei meio sem entender.
Até que, nem faz muito tempo, pude ler "Em que Creem os que Não Creem", uma troca de cartas entre Umberto Eco e o cardeal Martini, de Milão, livro editado no Brasil pela editora Record.
De fato, o velho tinha razão, motivo pelo qual, ele mesmo, incomparavelmente mais culto, se dissesse agnóstico, embora fosse ateu.
Pois o embate entre Eco e Martini, principalmente pelos argumentos do brilhante cardeal milanês, não é coisa para qualquer um, tamanha a profundidade filosófica e teológica do religioso.
Dele entendi, se tanto, uns 10%. E olhe lá.
Eco, não menos brilhante, é mais fácil de entender em seu ateísmo.
Até então, me bastava com o pensador marxista, também italiano, Antonio Gramsci, que evoluiu da clássica visão que tratava a religião como ópio do povo para vê-la inclusive com características revolucionárias, razão pela qual pregava a tolerância, a compreensão, principalmente com o catolicismo.
E negar o papel de resistência e de vanguarda de setores religiosos durante a ditadura brasileira equivaleria a um crime de falso testemunho, o que me levou, à época, a andar próximo da Igreja, sem deixar de fazer pequenas provocações, com todo respeito.
Respeito que preservo, apesar de, e com o perdão por tamanha digressão, me pareça pecado usar o nome em vão de quem nada tem a ver com futebol, coisa que, se bem me lembro de minhas aulas de catecismo, está no segundo mandamento das leis de Deus.
E como o santo nome anda sendo usado em vão por jogadores da seleção brasileira, de Kaká ao capitão Lúcio, passando por pretendentes a ela, como o goleiro Fábio, do Cruzeiro, e chegando aos apenas chatos, como Roberto Brum.
Ninguém, rigorosamente ninguém, mesmo que seja evangélico, protestante, católico, muçulmano, judeu, budista ou o que for, deveria fazer merchan religioso em jogos de futebol nem usar camisetas de propaganda demagógicas e até em inglês, além de repetir ameaças sobre o fogo eterno e baboseiras semelhantes.
Como as da enlouquecida pastora casada com Kaká, uma mocinha fanática, fundamentalista ou esperta demais para tentar nos convencer que foi Deus quem pôs dinheiro no Real Madrid para contratar seu jovem marido em plena crise mundial.
Ora, há limites para tudo.
É um tal de jogador comemorar gol olhando e apontando para o céu como se tivesse alguém lá em cima responsável pela façanha, um despropósito, por exemplo, com os goleiros evangélicos, que deveriam olhar também para o alto e fazer um gesto obsceno a cada gol que levassem de seus irmãos...
Ora bolas!
Que cada um faça o que bem entender de suas crenças nos locais apropriados para tal, mas não queiram impingi-las nossas goelas abaixo, porque fazê-lo é uma invasão inadmissível e irritante.
Não é mesmo à toa que Deus prefere os ateus...  

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Monsanto impede distribuição de cartilha sobre ecologia

A cartilha “O Olho do Consumidor”, que conta com ilustrações de Ziraldo, foi lançada para divulgar a criação do “Selo do SISORG” (Sistema Brasileiro de Avaliação de Conformidade Orgânica) que pretende padronizar, identificar e valorizar produtos orgânicos, orientando o consumidor.
O livreto, que teve tiragem de 620 mil cópias, foi objeto de uma liminar de mandado de segurança, fruto de ação movida pela transnacional Monsanto, que impediu sua distribuição.
A proibição se deu por conta do item 5 da página 7, onde se lê: “O agricultor orgânico não cultiva transgênicos porque não quer colocar em risco a diversidade de variedades que existem na natureza. Transgênicos são plantas e animais onde o homem coloca genes tomados de outras espécies”.

Colaboração: Fajardo

terça-feira, 28 de julho de 2009

Jornal O ESTADO DO PARANÁ pode fechar em setembro

MÁ POLÍTICA LEVA JORNAL À FALÊNCIA
A orientação política do jornal O Estado do Paraná está levando o órgão à falência
Não é boa a situação do jornal O ESTADO DO PARANÁ. Alias, é muito grave. Com uma dívida trabalhista de R$ 2 milhões (sem mais direito a apelação) e com o faturamento despencando, o jornal poderá ser fechado. Se até setembro, a situação não melhorar – o que já é impossível nesta altura – Paulo Pimentel vai manter em circulação apenas a TRIBUNA DO PARANÁ.
Dizem as boas línguas que essa péssima orientação política é coisa do Fábio Campana.
Fonte: www.afacaamolada.wordpress.com
Sugestão: Claudio Fajardo

Alvaro no ataque

Alvaro Dias decidiu quebrar a pasmaceira da política nativa e tomar a iniciativa do jogo. Quer porque quer ser candidato ao governo e para tanto se apega ao critério de antiguidade.

Exige que os jovens Beto Richa e Osmar Dias esperem a sua vez. Para viabilizar o seu projeto, Alvaro precisa, antes de tudo, desbancar o prefeito Beto Richa, favorito nas pesquisas de opinião e mais ainda no circuito interno do PSDB. Nove de cada dez tucanos preferem o prefeito como seu candidato. Mas o persistente Alvaro Dias não perde a esperança.

Insiste na mesma tecla. “O Beto Richa é jovem ainda e tem um futuro promissor. Não vejo razão para pressa”, afirmou. E para amenizar a reação do público interno, ele jura: “Se for eleito governador do Paraná, não vou disputar a reeleição. E nem é preciso fazer um acordo agora para garantir isso”. Isso não é tudo.

Alvaro vai mais longe. Diz que considera o cargo de prefeito de Curitiba importante demais para ser deixado para trás, nas mãos de outro partido, referindo-se à possibilidade de Beto Richa deixar a prefeitura no início do ano que vem nas mãos do vice Luciano Ducci, que além de ser do PSB é amigo do peito de Requião. “A minha opinião é que o cargo de prefeito de uma capital importante como Curitiba implica no compromisso de respeitar o voto popular e cumprir o mandato integralmente”, disse Alvaro.

Quanto a Requião, Alvaro Dias conta com ele para alavancar seu projeto. Um dos trunfos que Alvaro apresentou à direção do tucanato nacional é o de que é o único capaz de atrair Requião e a família para um acordo. E por falar em família, Alvaro garante que se for candidato o irmão Osmar se conforma com a reeleição para o Senado.

MAIS UMA TRAPALHADA DE JOSÉ JANENE

"Coroa - Em mãos de um Juiz Federal de determinada Vara Criminal da capital paranaense, substancioso dossiê que pede investigação sobre composição acionária de Dunel Indústria e Comércio em Londrina, ação que já estaria movimentando o Ministério Público e a Polícia Federal. Tudo começou em julho de 2008 e tinha por objetivo a fabricação de equipamentos de ensaio para a indústria eletro-eletrônica, envolvendo-se no negócio a CSA Project Finance e o político José Janene. Dali em diante, a Dunel e seu empresário passaram a viver um drama digno de história de terror, misturada a uma manobra de lavagem de dinheiro. Um assunto, que ainda será contado com detalhes,mas já está de conhecimento das autoridades federais e envolvendo um ex-deputado que já começou a trabalhar para voltar a Brasília em 2010."

fonte: www.impactopr.com.br

O ocaso do coronel

por Lúcia Hipólito

As mais recentes denúncias sobre as estripulias do senador José Sarney
estão longe de ser as últimas e apontam na mesma direção de todas as
anteriores: a privatização de recursos e espaços públicos em benefício
próprio. Ou de sua família. E o desprezo às leis do país.

Senão vejamos. Distraído, Sarney não reparou que recebia mensalmente
R$ 3,8 mil de auxílio-moradia, mesmo tendo mansão em Brasília e tendo
à disposição a residência oficial de presidente do Senado.

Culpa da burocracia do Senado.

Distraidíssimo, Sarney esqueceu de declarar sua mansão de R$ 4 milhões
à Justiça Eleitoral.

Culpa do contador.

Precavido, requisitou seguranças do Senado para proteger sua casa em
São Luís – embora seja senador pelo Amapá.

Milionário (embora o Maranhão continue paupérrimo), não empregou duas
sobrinhas e seu neto em suas inúmeras empresas. Preferiu que se
empregassem no Senado.

Milionário generoso, não quis deixar a viúva de seu motorista ao
relento. Empregou-a para servir cafezinho no Senado, em meio
expediente, com salário de R$ 2,3 mil. Ah, e alojou-a em apartamento
na quadra dos senadores.

Generoso, não impediu que seu outro neto fizesse negócios milionários
com crédito consignado no Senado.

Ainda generoso, entendeu que um agregado da família deveria ser também
empregado como motorista do Senado – salário atual de R$ 12 mil – mas
trabalhando como mordomo na casa da madrinha, sua filha e então
senadora Roseana Sarney.

Aliás, Roseana considerou normal convidar um grupo de amigos fiéis
para um fim de semana em Brasília – com passagens pagas pelo
Congresso.

Seu filho, Fernando Sarney, o administrador das empresas, que sequer é
parlamentar, considerou normal ter passagens aéreas de seus empregados
pagas com passagens da quota da Câmara dos Deputados.

Patriarca maranhense, ocupou as dependências do Convento das Mercês,
jóia do patrimônio histórico, e ali instalou seu mausoléu. O
Ministério Público já pediu a devolução, mas está complicado.

Não é um fofo?

Um dos mais recentes escândalos cerca justamente a Fundação José
Sarney, que se apoderou das instalações do Convento das Mercês. Consta
que R$1.300 mil captados através da Lei Rouanet junto à Petrobrás,
para trabalhos culturais na Fundação José Sarney foram... desviados.

Não há prestação de contas, há empresas-fantasmas, notas fiscais esquisitas.

Enfim, marotice, para dizer o mínimo. Mas Sarney alega que só é
presidente de honra da Fundação.

Culpa dos administradores.

E o escândalo mais recente (na divulgação, não na operação): Sarney
seria proprietário de contas bancárias no exterior não declaradas à
Receita Federal. Coisa do amigão Edemar Cid Ferreira, amigão também da
governadora Roseana Sarney a quem, dizem, costumava emprestar um
cartão de crédito internacional. Coisa de gente fina.

Em suma, acompanhando as peripécias de José Sarney podemos revelar as
entranhas do coronelismo, do fisiologismo, do clientelismo. Do
arcaísmo.

Tudo isto demora a morrer. Estrebucha, solta fogo pela venta. Mas um
dia desaparece.

Tal como os dinossauros.

Pra que mentir, senhor prefeito?

O prefeito de Londrina, Homero Barbosa (PDT), esteve terça-feira em Brasília. Sua agenda previa ida a vários ministérios e um encontro com o chefe de gabinete da presidência, o londrinense Gilberto Carvalho.

Nesse dia, o presidente da Câmara, José Roque (Padre Roque) e os membros da CEI que investigaram o transporte coletivo foram ao gabinete do prefeito para entregar o relatório. Haviam agendado o encontro com o vice, que não compareceu. Ninguém compareceu, aliás.

No dia seguinte, de volta a casa, Homero Barbosa soltou os cachorros sobre os vereadores, que recomendaram a anulação da licitação do serviço de transporte coletivo, feita há dois-três anos.

O assunto é sério demais para ser desqualificado. O que fez o prefeito? Além de desqualificar o trabalho dos vereadores, mentiu: "Isso aqui não é carnaval. Eu estava em Brasília falando com o presidente da República e todos os secretários estavam ocupados. Bastava ter protocolado na CMTU”.

Ele não esteve com o presidente da República. Basta conferir a agenda do Planalto para esse dia (presidencia.gov.br).


O release que é um primor de hipocrisia
Convido os meus sete (se ainda os tiver) leitores para analisar o release abaixo, da Prefeitura de Londrina, postado ontem e assinado pelo reponsável pela área de comunicação:

Prefeito convida Lula para inauguração do “Minha Casa”

Barbosa Neto entregou ontem, convite ao presidente Lula para vir a Londrina na inauguração das 10 primeiras casas do programa do governo federal

José Otávio
n.com@sercomtel.com.br

As primeiras casas para as famílias de até três salários mínimos do programa federal “Minha Casa Minha Vida” serão inauguradas em Londrina. Será no dia 14 de agosto, às 10h, que as dez primeiras das 32 habitações do empreendimento Residencial Elizabeth, localizado na avenida da Liberdade, 1.403, jardim Elisabeth, região norte, estarão prontas.

O prefeito de Londrina, Barbosa Neto, aproveitou a ida a Brasília e convidou o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, para participar do evento. Barbosa Neto também convidou a chefe da Casa Civil, Dilma Roussef. “Entreguei um quadro da obra para o presidente”, declarou o prefeito.
(Londrina, 22 de julho de 2009)

Agora, à análise:

Saltemos o primeiro parágrafo. O que interessa é o segundo. Então, "aproveitando" a viagem a Brasília, o prefeito de Londrina "convidou" o presidente da República. Ora, ora, ora, então o encontro e o convite ao presidente da República foram feitos ao acaso, assim como alguém que viaja a negócios e, depois de encerrada a agenda, "aproveita" e vai à procura de um amigo para convidá-lo a ir a sua casa.

Isso é ridículo. Primeiro, a visita ao presidente da República deve vir em primeiro plano e não como um acontecimento secundiário, ocorrido - repito - por acaso.

Mas, note-se: o release não diz que o prefeito encontrou-se com o presidente. Diz que o "convidou". O convite, portanto, pode ter sido feito por intermediário. Que tal por meio do chefe de gabinete, que, ele sim, estava na agenda do prefeito? Ou, simplesmente, deixou a correspondência na portaria do Palácio do Planalto. Por que não?

O autor deixa uma pista sólida de que o convite foi feito mesmo por intermediário, ao dizer que o prefeito "também convidou a chefe da Casa Civil". Ora, Dilma Rousseff está em férias!!!! e, mesmo que estivesse em Brasília, a agenda do prefeito não previa encontrar-se com ela (e muito menos a dela!) Portanto, se houve o convite à ministra, foi por meio de sua assessoria. Ou em correspondência deixada na portaria do Palácio do Planalto, onde trabalha também a senhora ministra.

E, para concluir, a afirmação chocante: "Entreguei um quadro da obra para o presidente". A afirmação é atribuída ao prefeito. Ela dá a entender que a entrega foi pessoal. Como é um release da Prefeitura, deve ser interpretado como uma manifestação oficial do prefeito.

E eu também menti, porque prometi que o comentário anterior seria o último, mas me vem à mente a pergunta inevitável: onde está a foto do encontro do prefeito com o presidente? Ele deixaria passar em branco um momento tão imporante e simbólico como esse?

Fotógrafos há de sobra no Planalto.

Sugestão para a assessoria do prefeito Homero Barbosa
Comentei no post abaixo que faltava uma foto para comprovar o encontro do que o prefeito de Londrina Homero Barbosa alega ter tido com o presidente Lula em Brasília, terça-feira passada.

Já que não há a foto, sugiro à assessoria do prefeito procurar no google a empresa que, no início do ano, durante o encontro dos prefeitos convocado pelo Planalto para lhes apresentar a candidata-chefe Dilma Rousseff, fez felizes todos os senhores prefeitos presentes a este festim diabólico.

Refiro-me à empresa que fez uma fotografia do presidente em tamanho natural, fixou-a sobre uma superfície sólida e - eureka! - posicionou os interessados ao lado dela, dando a impressão que o dito cujo estava coladinho no Lula em carne e osso.

Todos voltaram para suas cidades exibindo as fotos ao lado do Lula!

Taí: eis a solução. Matem a cobra e mostrem o pau!

fonte: http://josepedriali.blogspot.com/

A falta que faz ao Papa um pouco de marxismo

por Leonardo Boff

A nova encíclia de Bento XVI Caritas in Veritate de 7 de julho último é uma tomada de posição da Igreja face à crise atual. O complexo das crises que atingem a humanidade e que comportam ameças severas sobre o sistema da vida e seu futuro demandaria um texto profético, carregado de urgência. Mas não é isso que recebemos senão uma longa e detalhada reflexão sobre a maioria dos problemas atuais que vão da crise econômica ao turismo, da biotecnologia à crise ambiental e projeções sobre um Governo mundial da Globalização. O gênero não é profético, o que suporia "uma análise concreta de uma situação concreta". Esta possibilitaria investir contra os problemas em tela na forma de denúncia-anúncio. Mas não é da natureza deste Papa ser profeta. Ele é um doutor e um mestre. Elabora o discurso oficial do Magistério, cuja perspectica não é de baixo, da vida real e conflitiva, mas de cima, da doutrina ortodoxa que esfuma as contradições e minimaliza os conflitos. A tônica dominante não é a da análise, mas da ética, do dever-ser.

Como não faz análise da realidade atual, extremamente complexa, o discurso magisterial permance principista, equilibrista e se define por sua indefinição. O subexto do texto, ou o não-dito no dito, remete a uma inocência teórica que inconscientemente assume a ideologia funcional da sociedade dominante. Já se nota na abordagem do tema central - o desenvolvimento - hoje tão criticado por não tomar em conta os limites ecológicos da Terra. Disso a encíclica não fala nada. A visão é de que o sistema mundial se apresenta fundamentalmente correto. O que existe são disfunções e não contradições. Esse diagnóstico sugere a seguinte terapia, semelhante a do G-20: retificações e não mudanças, melhorias e não troca de paradigma, reformas e não libertações. É o imperativo do mestre: "correção", não a do profeta:"conversão".

Ao lermos o texto, longo e pesado, terminamos por pensar: como faria bem ao atual Papa um pouco de marxismo! Este, a partir dos oprimidos, tem o mérito de desmascarar as oposições presentes no sistema atual, pôr à luz os conflitos de poder e denunciar a voracidade incontida da sociedade de mercado, competitiva, consumista, nada cooperativa e injusta. Ela representa um pecado social e estrutural que sacrifica milhões no altar da produção para o consumo ilimitado. Isso caberia ao Papa profeticamente denunciar. Mas não o faz. O texto do Magistério, olimpicamente fora e acima da situação conflitiva atual, não é ideologicamente "neutro"como pretende. É um discurso reprodutor do sistema imperante que faz sofrer a todos especialmente os pobres. Isso não é questão de Bento XVI querer ou não querer mas da lógica estrutural de seu tipo de discurso magisterial. Por renunciar a uma análise critica séria, paga um preço alto em ineficácia teórica e prática. Não inova, repete.

E ai perde uma enorme oportunidade de se dirigir à humanidade num momento dramático da história, a partir do capital simbólico de transfomação e de esperança, contido na mensagem cristã. Esse Papa não valoriza o novo céu e a nova Terra, que podem ser antecipados pelas práticas humanas, apenas conhece essa vida decadente e, por si mesma insustentável (seu pessimismo cultural) e a vida eterna e o céu que ainda virão. Afasta-se assim da grande mensagem bíblica que possui consequências políticas revolucionárias ao afirmar que a utopia terminal do Reino da justiça, do amor e da liberdade só será real na medida em que se construirem e anteciparem, nos limites do espaço e do tempo histórico, tais bens entre nós.
Curiosamente, abstraindo de laivos fideistas recorrentes ("só através da caridade cristã é possível o desenvolvimento integral"), quando se "esquece" do tom magisterial, na parte final da encíclica, introduz coisas sensatas como a reforma da ONU, a nova arquitetura econômico-financeira internacional, o conceito do Bem Comum do Globo e a inclusão relacional da família humana. Parafraseando Nietzsche:"quanto de análise crítica o Magistério da Igreja é capaz de incorporar"?

Leonardo Boff é autor de Igreja: carisma e poder (Record 2005).

domingo, 26 de julho de 2009

Mel acampará aqui

ASSEGURA PROVISÕES E BARRACAS PARA RESISTIR EM LAS MANOS

"Tem que ficar aqui organizando varias coisas que vamos hoje tratar de arrumar, para receber a todos os que vem da montanha”, falou o presidente deposto* Replicou à secretária de Estado, Hillary Clinton, informar-se melhor sobre “o que está se passando”, e descartou um novo diálogo com os “terroristas” de Micheletti * Militares de Honduras “invadiram certas zonas para provocar a Nicarágua”, disse Zelaya, que reclamou ademais dos políticos nacionais que questionam sua presença no país."

DO EL NUEVO DIARIO – NICARÁGUA
Mauricio Miranda
Tradução: Cláudio Fajardo

Ao fim de cumprir um mês de ter sido expulso de Honduras, o presidente Manuel Zelaya ainda não encontrou a maneira de regressar, nem por meio de um acordo político nem pelo posto fronteiriço que lhe há oferecido a Nicarágua. Este sábado anunciou que manterá sua resistência e que acampará por dois dias no posto de Lãs Manos, de onde ontem se instalou pela segunda vez, acompanhado de centenas de seus seguidores, mas sem enfrentar ao Exército hondurenho que continuava de plantão, para impedir-lhe a passagem.

Zelaya se manteve a uma distância de não menos de 80 metros da guarda para ingressar a Honduras, não como na última sexta-feira, que inclusive teve uma conversação com o oficial hondurenho encarregado da zona.

Ainda que conte com o respaldo da comunidade internacional e de camponeses de seu país, que seguiam expondo-´se ao cruzar as fronteiras por pontos cegos para encontrá-lo do lado nicaragüense, Zelaya evitou responder se a estas alturas Roberto Micheletti, o presidente de fato de Honduras, o há ganho a queda de braços desde o golpe de Estado perpetrado na madrugada de 28 de junho.

às 13:10 de sábado, Zelaya apareceu protegido com uma caravana de veículos. Ele mesmo chegou ao volante de um jeep, acompanhado do chanceler venezuelano Nicolas Maduro. E anunciou sua nova decisão: permanecer durante 48 horas no posto fronteiriço de Las Manos, ao norte da Nicarágua.

Disse que levará alimentos e água par estar com os camponeses que desde diversas localidades hondurenhas tem chegado a pé para apoiá-lo. Desde as primeiras horas da manhã, conduções com camponeses hondurenhos chegaram exclamando consignas, apoderando-se do lugar, mesmo com os transportes de cargas em ambas as vias chegava ao terceiro dia paralisado.

”Vamos organizar várias coisas hoje. Aqui tem que ficar organizando várias coisas que vamos tratar de arrumar, para receber a todos os companheiros que estão vindo da montanha. Eu tenho que fazer várias atividades, e espero que aqui nos mantenhamos firmes. Vamos nos manter firmes, ninguém vai nos vencer” disse Zelaya utilizando um megafone que lhe arrumou o chanceler Maduro.

O discurso de Zelaya
Minutos depois, Zelaya fez um discurso ao povo congregado, baixo às vistas atentas dos soldados hondurenhos que observavam desde o outro lado da fronteira.

“Ali está detida minha família, que não a deixam passar em Paraíso. Há que rogar a Deus. Ali está minha mãe, minha esposa e meus filhos. Mulheres valentes, enfrentando as baionetas. Não lhes da pena a estas cúpulas militares, humilhando ao povo”, exclamou um Zelaya vestido de camisa branca com seu inseparável sobreiro de rancheiro.

“Os direitos do povo não se vendem nem se rendem. Não vamos permitir que ninguém nos diga aos povos o que é que temos que fazer”, acrescentou.

Explicou que os acampamentos que pensam montar na zona durarão pelo menos 48 horas, e falou de manter a “resistência contra o golpe”.

”Nós estamos organizando todo um processo de resistência contra o golpe, e ademais, uma força ideológica e política, nada mais que diferentes às outras. Esta é a favor do povo, esta é para não deixarmos nos vencer nunca mais. A dignidade que tem o povo hondurenho vai ser imitada por outras gerações de outros povos do mundo, porque não estamos dispostos a nos render. Se vocês se mantém firmes, aqui tem ao primeiro soldado da paz” exclamou.

Disse estar disposto a chegar “até as últimas conseqüências para defender Honduras”. “Aqui, em Ocotal, Sandino ganhou sua primeira batalha frente aos invasores que naquela época queriam dobrar a espinha dorsal do povo da Nicarágua, e aqui em Ocotal, o povo hondurenho retoma o caminho de Morazán, la rota de Morazán e a rota de Sandino. Quem disse medo? Vamos com as reformas sociais. Vamos atrás dos golpistas até amarrá-los e tirá-los de Honduras”, asseverou, enquanto era vigorosamente aplaudido.

Micheletti é culpado pelo fracasso da mediação
Momentos depois, durante uma improvisada conferência sobre o capô de seu veículo, denunciou que Roberto Micheletti se negou a chegar a firmar um acordo que se estava alcançando através da mediação do presidente da Costa Rica, Osacar Arias Sanchezs.
E pediu à secretária dos Estados Unidos, Hillary Clinton, para que se informasse melhor sobre “o que está se passando”.

”Cada um tem que opinar de acordo com a informação que tem: se a secretária Clinton não tem: se a secretária Clinton não tem a informação adequada do regime repressivo, de que greves de professores, operários, de trabalhadores, que há ocupações de camponeses de povoados, se não tem toda essa informação, então é claro que não tenha todo o contexto que está se passando.
Anunciou que nas próximas horas tem previsto fazer contatos com o Secretário Geral da OEA, com o presidente do Brasil, Luis Inácio Lula da Silva, e com o Departamento de Estado dos EUA.

Também chamou à “resistência democrática”
Assinalou que além da resistência popular, há que manter a resistência diplomática, ainda que tenha descartado de pronto uma negociação com os “terroristas”. “Diálogos com terroristas não há”, assegurou.

Por outro lado, denunciou que o governo de fato qu se mantém em Honduras está levando a cabo agressões para provocar enfrentamentos na Nicarágua, país ao qual agradeceu sua hospitalidade.


Denuncia planos de agressão
“Vou denunciar que estão armando grupos militares para tratar de agredir invadindo certas zonas para provocar a Nicarágua. Eu já avisei ao comande Daniel Ortega. São manobras militares âs que Nicarágua não lhes vá dar atenção, mas há que tomar medidas”, disse Zelaya, que desde esse lugar atendia seu telefone celular para inteirar-se de como ia a organização dos cidadãos hondurenhos que seguiam cruzando a fronteira.”

Finalmente, minimizou o tempo que já está fora de Honduras, ao dizer que depois de 27 dias o “povo hondurenho o seguia apoiando.

Por quê me tem temor a mim, se sou um simples cidadão com a investidura d presidente que quer reclamar o direito do povo de eleger e de decidir?”, questionou, e fez uma reclamação aos políticos que criticam sua presença na Nicarágua.

“Oxalá lhes passem a outros governos que estão criticando minha presença aqui. Oxalá amarrem a outros presidentes, para que olhem que é que o que sentem estar expatriado no exílio forçado, sem poder abraçar sequer aos amigos e aos companheiros”, expressou Manuel Zelaya.

”Esta batalha a vamos ganhar a todo custo, não importa o esforço nem o sacrifício”, concluiu o mandatário deposto, na cidade de Ocotal debaixo de vivas a seu nome que exclamavam seus simpatizantes.

sábado, 25 de julho de 2009

Poema Capitão de Paulo César Pinheiro

Ele cresceu bicho solto
Lobo senhor das matilhas
Foi sentinela dos povos
Varão de suas famílias
Tinha uma estrela na boina
Como um farol das vigílias
Gravou com sangue a esperança
Dentro das nossas cartilhas
Junto com seus camaradas
lutou contra as camarilhas
grupos, exércitos, bandos, corjas, nações e quadrilhas
foi cavaleiro da serra
foi capitão das guerrilhas
nada pediu nas vitórias
era do povo as partilhas
quis consertar continente
não libertar só as ilhas
tinha no olhar a certeza do mundo das maravilhas
tombou rasgado de balas
numa das mil armadilhas
e o vento chama seu nome
no mato que cobre as trilhas.

Enviado por Claudio Fajardo

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Presidente Zelaya parte acompanhado de Éden Pastora, o Comandante Zero

O presidente Mel Zelaya, deposto por um golpe de estado no último dia 28, voltará a Hondruras pela fronteira da Nicarágua. O presidente estará acompanhado pelo Comandante Zero, dos Sandinistas, e uma caravana até as cidades de Somoto e Ocotal.
Segundo o jornal nicaragüense El Nuevo Diário “Montado em seu jeep branco Wrangler conversível, capota negra, saiu ontem o vaqueiro hondurenho a buscar sua pátria perdida.
A marcha a fará com a mesma paciência com que viu transcorrer 26 dias desde que o expulsaram de Honduras. (leia abaixo texto original na íntegra)

Sale Zelaya acompañado de Edén Pastora
* Una caravana custodiada por decenas de Tapires de la Policía
* Estará en Somoto y Ocotal, y el sábado en la frontera
por Leonor Alvarez

Montado en su jeep blanco Wrangler convertible, capota negra, tipo renegado, salió ayer el vaquero hondureño a buscar su patria perdida. La marcha la hará con la misma paciencia que ha visto transcurrir 26 días desde que lo expulsaron de Honduras.

Tres días de viaje a partir de ayer para llegar a la frontera con Nicaragua y mirar lo que pasará cuando levante una bandera blanca, con la expectativa de que los militares que lo esperan lo obedezcan y bajen sus armas.

“Yo espero que cuando las Fuerzas Armadas, especialmente su cúpula militar, vean que está el pueblo y que está su Presidente, bajen sus fusiles, se sometan a la autoridad y levanten la bandera de la democracia”, expresó.

Manuel Zelaya Rosales, antes conocido como el “Presidente Vaquero”, por su singular sombrero, viajó ayer al departamento nicaragüense de Estelí, 149 kilómetros al norte de Managua, donde se harían los planes para hoy continuar su marcha hasta los municipios Somoto y Ocotal. El sábado planea llegar definitivamente a la frontera que divide a Nicaragua de Honduras.

“Vamos sin armas, vamos desarmados, vamos a buscar el diálogo”, dijo ayer Zelaya, aclarando que el diálogo que busca no es con los golpistas ni con Roberto Micheletti, Presidente de facto.


“Comandante Cero” llegará sólo a frontera con Honduras
Aunque el presidente depuesto aseguró ayer en la conferencia de prensa que sólo una bandera blanca acompañará su marcha, las palabras de su compañero “Comandante Cero” --nombrado estratega de la misión por su experiencia de guerrillero en los años 80-- se pueden interpretar de otra forma.

“Hay que estar alerta y preparado para lo que pueda ocurrir. En política todo es posible”, advirtió Edén Pastora, mejor conocido como “Comandante Cero”, desde que lideró el asalto al Palacio Nacional en 1979. Pastora detalló que su misión termina en la frontera.

Zelaya salió de Managua acompañado de una caravana de periodistas y de policías nacionales, pero no confirmó hasta dónde lo acompañarán los oficiales nicaragüenses.

Custodiado por oficiales TAPIR

La marcha también iba custodiada por oficiales de Tácticas y Armas Policiales de Intervención y Rescate, mejor conocidos como TAPIR. Extraoficialmente, una radio local informó que había varios buses a las 5:00 de la tarde de ayer, en el Malecón de Managua, esperando zarpar para acompañar la caravana de Zelaya.

Zelaya hizo un llamado a su esposa y a sus hijos para que lleguen a la frontera de Honduras y lo esperen.

“He invitado a mi esposa y a mis hijos a que salgan mañana a la frontera. Posiblemente mañana en la noche me estaré reuniendo con ellos, o el sábado en la mañana en la frontera”, manifestó. En la conferencia también reiteró su agradecimiento al Presidente de Costa Rica, Óscar Arias, por el esfuerzo que hizo en buscar una mediación.

Nuestro corresponsal en Estelí, Máximo Rugama, reportó que la caravana arribó al “Diamante de Las Segovias” a las 7:45 de la noche, y que el presidente Zelaya se hospedaría en el hotel La Campiña, cinco kilómetros al Norte de Estelí.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Após fracassar mediação, Zelaya anuncia retorno a Honduras

O presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, anunciou, na noite desta terça-feira (21), que pretende voltar ao seu país a partir do fim do dia de hoje (22), quando se encerra o prazo de 72 horas fixado pelo mediador do conflito, o presidente da Costa Rica, Osca Arias, para o fim da crise política. Zelaya também confirmou que enviou uma carta ao presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, solicitando que o país intensifique as sanções contra os golpistas que tomaram o poder.

Sem avanço nas negociações, ele disse que regressará apesar das ameaças de prisão do governo interino. "Creio que não se pode me pedir mais tempo para continuar as negociações. Até agora apoiei tudo que me foi pedido pela comunidade internacional. Tenho que regressar", colocou, se referindo ao fracasso das tentativas de acordo com o governo autoproclamado e instando a comunidade internacional a apoiar sua decisão.

Zelaya não deu detalhes sobre sua volta. Disse apenas que ela se daria por meio de "qualquer um dos pontos fronteiriços de Honduras com Guatemala, El Salvador ou Nicarágua", por via aérea, marítima ou terrestre. "A partir das 72 horas estabelecidas, inicio meu retorno legítimo ao país. Não darei detalhes de como o farei, porque são estratégias que tenho que preservar", justificou.

O governante deposto disse que só falará "o horário e a forma" de seu retorno aos jornalistas que o acompanharem. Assegurou que seu retorno a Honduras tem como objetivo "buscar soluções" e manifestou que será "um retorno pacífico, amparado no direito a resistir à opressão".

O hondurenho responsabilizou o chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas hondurenhas, general Romeo Vásquez, caso algo lhe aconteça na empreitada. "Eu responsabilizo, por minha vida, por minha segurança, o general Romeo Vasquez", afirmou Zelaya em entrevista coletiva concedida na embaixada de Honduras em Manágua.

"Se algo me acontecer no caminho para Honduras, o responsável por meu assassinato, minha morte, será o general Romeo Vásquez", insistiu o governante hondurenho, detido e expulso de seu país pelos militares em 28 de junho e destituído pelo Parlamento, que nomeou Roberto Micheletti em seu lugar. O presidente asseverou que, com o seu retorno a Honduras, "a cúpula militar terá que ir embora", dando espaço a uma nova gereção de militares.

Sobre a carta que enviou a Obama, Zelaya informou que teve o objetivo de "pedir que (os EUA) apertem suas medidas diretamente contra os que conspiraram nesse golpe e realizaram este golpe", disse.

De acordo com o La Jornada, o presidnete deposto tem se comunicado com frequência com a secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, mas questiona o jogo duplo de Washington, onde há legisladores que apoiam o golpe. Zelaya citou como exemplos Otto Reich e Robert Carmona, "que são democratas até os Estados Unidos e fora do país são tiranos".

Enquanto Zelaya tomava a decisão de regressar, seus apoiadores saíram em marcha para cobrar sua restituição. Diversos sindicalistas convocaram uma paralização geral para quinta e sexta-feira. Em Washington também houve protesto de uma delegação hondurenha integrada por legisladores e membros da sociedade civil que exigiram a restituição pacífica do presidente constitucional.

Na Costa Rica, as informações eram as de que Arias trabalhava horas extras na busca de uma saída mediada, após Zelaya ter reafirmado seu propósito de voltar a Honduras.

O prazo de 72 horas foi estabelecido por Arias no domingo, ainda na esperança de buscar uma solução diplomática para o impasse gerado pelo golpe. O governo de facto de Honduras, contudo, fez saber que tem "enorme vontade" para resistir a sanções internacionais e convocou seus partidários a se manifestares nesta quarta-feira.

Com agências

terça-feira, 21 de julho de 2009

ARTIGO: Imoral

No Brasil, é normal seus dirigentes serem vistos e sentirem-se como casta, com privilégios muito além dos direitos aos quais o povo tem acesso. Os serviços de saúde e educação à disposição das famílias dos eleitos são completamente diferentes daqueles dos seus eleitores. Ninguém se espanta com o fato de o teto do salário no setor público ser 25 vezes maior que o piso salarial do professor ? cujo valor, apesar de tão pequeno, até hoje, um ano depois de sancionado, ainda é contestado na Justiça, como inconstitucional.

É visto como natural que a parcela rica do Brasil tenha o maior índice de cirurgias plásticas de rejuvenescimento em todo o mundo e a parcela pobre não tenha acesso nem mesmo às mais fundamentais operações; que os 10% mais ricos tenham esperança de vida de 72 anos e os 10% mais pobres de apenas 45 anos. Todos aceitam que milhares peçam esmolas para comprar comida e remédios que enchem as prateleiras de farmácias e supermercados.

Considera-se normal que os 1% mais ricos da população recebam 20,5% da renda nacional e os 50% mais pobres recebam apenas 13,2%; que 19% das casas não tenham água encanada e 51% não tenham saneamento ou esgoto. Aceitamos que 50 milhões dependam de ajuda no valor de R$182 por mês para a sobrevivência de toda a família, R$6 por dia, sem chance de trabalho com salário digno.

É natural que crianças vivam nas ruas, sejam mendigos, pivetes, prostitutas, trabalhadores, e não estudantes; que 11% delas cheguem aos 10 anos sem saber ler; e 60 abandonem a escola a cada minuto do ano letivo, antes da conclusão do Ensino Médio; e que entre as que permanecem, muitas vejam a escola como um restaurante-mirim que fornece merenda. É aceito que os professores tenham a menor remuneração entre os profissionais com formação equivalente; que deem aulas em escolas sem água nem luz, raras com computadores e sistemas de vídeo. Ficou normal que as escolas tenham se transformado em campos de batalha, os professores sejam agredidos, as aulas viraram balbúrdia.

Mesmo sem guerra, nos acostumamos com 125 mil pessoas mortas por ano em conseqüência da violência. Aceita-se que o país com um dos cinco maiores territórios do mundo ? além de litoral e espaço aéreo ? não apoie suficientemente suas Forças Armadas para defenderem esse patrimônio.

Não discutimos sequer o fato de conviverem 4,5 milhões de universitários ao lado de 14 milhões de analfabetos adultos e 40 milhões de analfabetos funcionais; de que, 121 anos depois da abolição da escravatura, a cor da elite seja tão predominante branca quanto era durante a escravidão; é aceito como normal que as universidades sejam ocupadas, na imensa maioria, por jovens brancos e as prisões, por jovens negros; que em 120 anos da República, o Brasil tenha uma escola diferente para os ricos, na qualidade, da escola para os pobres; e que, depois de 20 anos de democracia, a corrupção seja vista como uma prática comum em todos os níveis da sociedade, especialmente entre os políticos.

É normal que nossas reservas florestais sejam devastadas sistematicamente; e que apesar de todas as evidências da catástrofe do aquecimento global, abramos mão de bilhões de reais em impostos para viabilizar o aumento na venda de automóveis privados, sem buscar uma reorientação dessa indústria, como forma de manter o emprego do trabalhador, o bem-estar do consumidor e o equilíbrio ecológico, a serviço das próximas gerações.
É normal prender quem rouba comida ou remédio para os filhos e deixar solto quem rouba bilhões mas pode pagar bons advogados.

E é normal, nos dias de hoje, que os partidos que lutavam contra as injustiças tenham optado pelo abandono dos sonhos, entregado-se às mesmas práticas do passado e esquecendo-se de suas promessas. Na República, que comemora 120 anos, é normal que a justiça, a escola, a saúde, o transporte, a moradia, a cultura sejam tão diferenciadas, conforme a classe social, que as pessoas não pareçam compatriotas.

No Brasil, o anormal é normal; por isso, o normal é anormal. E imoral.

Cristovam Buarque é senador (PDT-DF)

CHARGE DO DIA

segunda-feira, 20 de julho de 2009

ZELAYA ESTÁ EM HONDURAS EM DEFINITIVO

COMEÇA A GRANDE MARCHA PARA A RETOMADA DA DEMOCRACIA
por Laerte Braga
O presidente constitucional de Honduras Manuel Zelaya está em território de seu país e em caráter definitivo. Até agora Zelaya tinha feito algumas incursões a regiões da fronteira onde falou por duas ou três vezes ao povo. Neste momento o presidente entrou em Honduras e vai permanecer.
A greve geral está afetando diversos setores da economia do país. São visíveis os sinais de descontrole dos golpistas. A repressão aumenta, mas já não há unanimidade entre os militares que depuseram o presidente há quase vinte dias.
Uma grande marcha com voluntários de diversos países principalmente da América Latina começa a dirigir-se a Tegucigalpa. Muitos norte-americanos de organizações pela democracia e direitos humanos estão se associando a marcha. Outros chegam de países da Comunidade Européia.
O presidente não pretende mais retirar-se do território de Honduras. Sua mulher e sua “filha” lideram mobilizações em vários pontos principalmente na capital.
As manifestações em toda Honduras estão provocando ondas de grande emoção no país. Levas de trabalhadores na cidade e no campo saem às ruas para manifestar seu apoio ao retorno do país à legalidade constitucional. O próprio Zelaya que entrou em Honduras às sete horas da manhã solicitou a este jornalista através de amigos comuns que corrigisse a informação – “é minha “filha” e não filho, que ao lado da minha mulher lidera manifestações por todos os cantos” –.
A política norte-americana de ganhar tempo através de negociações envolvendo o presidente da Costa Rica Oscar Árias e assim consolidar o golpe ou encontrar solução intermediária que favorecesse interesses dos EUA começa a fazer água. O presidente Barak Obama, neste momento, está acuado dentro de seu próprio país, já que setores do complexo empresarial e militar querem manter a todo custo o governo golpista.
O clima em Honduras é de comoção nacional.
Todos os protestos são pacíficos. É importante manter a mobilização na rede mundial de computadores, que acaba forçando a mídia corporativa no Brasil a noticiar fatos próximos dos reais e diminuir o nível de distorções diante das realidades que começam a brotar de forma absoluta em Honduras.
Há protestos em frente à embaixada dos EUA. O embaixador norte-americano em Honduras é um dos principais suportes do golpe e ignora a posição oficial do presidente Barak Obama.
Grupos de militares encarregados da repressão começam a questionar o papel das forças armadas hondurenhas a despeito da pressão dos comandantes golpistas e da presença de 500 soldados dos EUA que fornecem apoio logístico ao golpe.
A chegada de Zelaya cria um fato consumado e coloca os golpistas diante de um impasse. Falta-lhes, neste momento, forças morais para enfrentar a reação popular. E se o fizerem o custo em vida será dramático, ultrapassando qualquer limite de sanidade.
O presidente deposto disse que vai permanecer em Honduras até o restabelecimento do seu governo e repetiu que “não existem mudanças sociais sem luta”.
À tarde novos comunicados da resistência serão divulgados dando conta das ações do movimento.
A professora Neuzah Cerveira, filha de uma dos assassinados pela ditadura militar de 1964, o major Joaquim Cerveira, acaba de distribuir o seguinte comunicado conclamando à marcha em Honduras:
"Conclamo a todos os latino americanos a participarem da marcha pacífica que se dirige a Honduras para reconduzir Mel Zelaya a seu cargo legitimo, usurpado por narco traficantes golpistas. A quadrilha de Pinochelletti. Com apoio dos EEUU.
Zelaya está em solo pátrio.
Companheiros, defender a democracia de Honduras é defender a democracia e a soberania de toda Latino America.
Todos a Honduras!
Bolivar nos acompanha, Viva a PÁTRIA GRANDE y soberana!
Viva la dignidad del pueblo de HONDURAS!
ALERTA! ALERTA! QUE CAMIÑA LA ESPADA DE BOLIVAR POR AMÉRICA LATINA!
GOLPES EN NUESTRA AMÉRICA, NUNCA MÁS!
Com muito orgulho assino,
Profª Drª Neusah Cerveira (Nina) (periodista) -CCB - Brasil
Integrante do movimento brasileiro JUNTOS SOMOS FORTES!
Filha do desaparecido político da Operação Condor Joaquim Pires Cerveira
TODOS EM SILÊNCIO PARA DEVOLVER HONDURAS A SEU POVO!
LULA CONTAMOS COM SEU APOIO!"

As veias abertas do Jorjão

por Jorge Eduardo

Meus caros amigos:
A maioria de vocês era muito jovem em 1989 (Gustavo, meu filho, tinha dez anos; imaginem minha idade) quando o País viveu sua primeira eleição direta para presidente da República (não custa lembrar que a palavra vem de respublica, do latim, coisa pública, do povo).
Aos fatos.
Era eleitor e, por sorte do destino, acompanhei o candidato Lula no segundo turno daquela eleição. Conheci boa parte do Brasil graças à besteira do jornal onde trabalhava, que me achou indicado como um sujeito capaz de equilibrar a cobertura, esta sempre pró-Collor. Não acho que tenha feito um belo trabalho, pois não tinha fontes fora daqui, era secado, não tinha esperteza et coetera. Mas fiz um trabalho decente.
Como eleitor, no primeiro turno votei, e não me arrependo, no candidato do Partido Comunista, o sr. Roberto Freire, hoje um hoje notório malandro que jogou sua biografia ao lixo e coisa e tal. Votei no partido. Veio de Freire o PPS, mas ficou o velho Partidão, que continuo respeitando.
No segundo turno, votei com orgulho no candidato que viera do povo, o metalúrgico Lula. Perdeu para Fernando Collor de Mello, como se sabe, por artimanhas da política e resistência da sociedade, a imprensa inclusive.
Votei em Lula de novo na eleição seguinte, já no primeiro turno, mesmo simpatizando com o professor Fernando Henrique, e votei de novo em Lula e de novo até ele se eleger como representante do povo, e, depois, se reeleger.
Não, não me arrependo do voto que dei na época. Até agora Lula foi melhor, muito melhor que FHC.
Mas as artes da política - e a política é antes de tudo uma arte, assim definida pelo craque Nicolau Maquiavel - mudaram nosso companheiro.
Ao longo de dois mandatos, a pretexto de governar, com e para o povo, o companheiro Lula se afastou do povo, produziu (ele mesmo, sim) acordos espúrios, chutou a Constituição com suas medidas provisórias, acertou-se com o que há de pior no Congresso, nomeou o que há de mais nojento para alguns ministérios (Temporão, da Saúde, e Haddad, da Educação, não o absolvem), enfim, repetiu práticas de república bananeira.
Cansei-me, caros amigos.
A palha nas costas do camelo que sou, a gota d´água, o que restava de paciência foi se esgotando (como fadiga do material compreensão política) com vários episódios, até culminar com o caso Sarney, um notório bandido (vejam no You Tube: Maranhão 66, só pra começar).
Por fim, derrubado fiquei com a ida do companheiro às Alagoas, onde ele, patife político, abraçou-se, enlevou-se com Renan e - ele mesmo - Fernando Collor, o maior pulha da história da República brasileira. E olhem que conheço um pouco de história. Só não fiquei com saudade dos milicos porque deles não se deve ter saudade, apenas distância histórica. E que se mantenha distância deles.
Anfã, como diziam os árabes. Na alvorada da terceira idade, eu, velho sonhador, estou muito triste.
Um governante num sistema presidencialista precisa do Congresso para governar, mesmo obrigado a fazer certos e incertos acordos, concordo. Mas não pode se afastar do povo, pelo qual e para o qual existe.
Em nome do povo, nós, o companheiro Lula cuspiu em sua e na nossa biografia, chutou nossa inteligência, sentou-se em nossa paciência.
Não merecemos isso, ?esse País? não merece.
Isso não é um choro arrependido nem declaração de voto no tucano Serra, que talvez agisse igualmente.
É só para dizer que o companheiro aceitou de vez o abraço do afogado com Sarney, Renan, Collor, PMDB e todos os seus picaretas.
É para dizer que Lula me deixa envergonhado.
O camarada Lênin o teria passado nas baionetas.
Não foi para isso que nossos irmãozinhos morreram nas ruas e nas matas, não foi para isso que nossos tios foram cassados e caçados, não foi para isso que muitos de nós demos muitos anos de nossa juventude, não é por isso que continuamos construindo nossa democracia.
É chato citar a Revolução dos Bichos, de Orwell (publicado aqui pelo milicos - traduzido pelo chefe de gabinete do Golbery, o capitão Heitor de Aquino Ferreira -, mas que depois voltou-se contra eles), mas hoje não sei mais quem é porco e quem é gente.
Prefiro lembrar o capitão Lamarca, de quem muita gente não gosta: Ousar lutar, ousar vencer.
Vamos que vamos.
Sonhar sempre vale a pena.
Grande abraço, do amigo Jorjão, em homenagem a quem nos abraçou um dia e sempre, gente da estirpe do Graciliano Ramos, do Luiz Carlos Prestes, do marechal Floriano Peixoto, do Getúlio, do Dutra do ?livrinho?, do Juscelino, do Jango, do Gregório Bezerra, do Marighela, dos amigos do Araguaia, da Marina Silva, da Heloísa Helena, do Chico Mendes, do dr.Miguel ?Arraia?, do Francisco Julião, dos professores Sérgio Buarque, Chico de Oliveira, Florestan Fernandes, do dr. Walter Pecoits, dos doutores Vieira Neto, René Dotti, Raymundo Faoro, Lamartine Correia de Oliveira, José Carlos Dias, Heleno Fragoso, do dr. Ulisses Guimarães, dos democratas em geral e dos sonhadores em particular.
Suerte.

GOLPE COM AMOSTRAS GRÁTIS: COMO MENTE E DISTORCE A MÍDIA

Por Laerte Braga

Roberto Micheletti, presidente do congresso hondurenho, foi empossado na presidência da República em substituição ao presidente constitucional Manuel Zelaya, deposto por um golpe militar financiado por empresas multinacionais do setor farmacêutico.

Quem se der ao trabalho de comparar o discurso de posse do novo “presidente” vai encontrar semelhanças com o discurso de Pedro Carmona, “presidente” empossado no golpe que destituiu Hugo Chávez em 2002. Durou três dias e Carmona mora hoje em Miami, paraíso de golpistas.

Micheletti fala em “transição”, fala em “legalidade”, fala em “paz” enquanto as tropas da indústria farmacêutica prendem e matam lideranças de oposição. Em flagrante desrespeito a normas internacionais de direito o embaixador da Venezuela foi seqüestrado, agredido e abandonado numa estrada por militares “patriotas”. O mesmo aconteceu com o embaixador de Cuba.

Políticos como Micheletti não são tão caros assim como se possa imaginar. Como via de regra não têm e nem sabem o que sejam escrúpulos, princípios, dignidade, costumam aceitar qualquer garrafa de cerveja para um golpe semelhante ao que aconteceu em Honduras.

No caso de Micheletti (que não tem a goela grande de um Sarney) deve ter recebido um monte de amostras grátis da indústria farmacêutica internacional. O golpe, entre outras razões, foi financiado por essas quadrilhas para evitar o acordo que previa medicamentos genéricos e baratos no país e um projeto de saúde pública que contemplasse todos os hondurenhos. Entre outras razões. O presidente constitucional do país aderiu a ALBA – ALTERNATIVA BOLIVARIANA – e pretendia realizar hoje um referendo sobre reformas constitucionais.

Ouvir o desejo dos cidadãos de seu país. Isso não convém a empresas multinacionais, a banqueiros, a latifundiários e não interessa aos norte-americanos. O embaixador dos EUA foi partícipe ativo dos preparativos do golpe e do próprio. Não se reporta a Obama, só na hora das fotos. Seus relatórios vão para Wall Street, em New York.

Barak Obama talvez tenha entendido agora que não preside país algum. É apenas parte de um show, um espetáculo. Ou aceita as regras dos diretores – são vários – ou fica num mandato só, nem isso se bobear.

Deve ter sido farta a distribuição de amostras grátis. Existe uma boa quantidade de generais, deputados e ministros de corte suprema em Honduras. Vão ser usadas, com certeza, nas próximas eleições.

A mídia brasileira, financiada dentre outros, por laboratórios multinacionais, vem noticiando o fato com a expressão “golpe de estado”, mas preocupada em deixar claro nas entrelinhas que o presidente constitucional do país Manuel Zelaya “desrespeitou” uma decisão da suprema corte.

A barbárie e a violência dos militares golpistas não é registrada. Importante é deixar uma dúvida no ar.

A condenação explícita do golpe por governos do mundo inteiro leva a mídia a apostar em fatos que considera de “maior importância”. A morte de Michael Jackson. Ou a vitória do Brasil sobre os Estados Unidos. E atribuir ao presidente deposto pelos militares a soldo da indústria farmacêutica intenções de vir a ser reeleito.

Não existe capacidade de indignação na grande mídia brasileira, de um modo geral em todo o mundo capitalista. Não existe vontade de explicar os fatos, mostrá-los na sua totalidade. Existe a mentira deliberada e muito bem divulgada.

Se não podem exibir a alegria e os sorrisos com a deposição de um presidente que contraria os interesses dos patrões, exibem a discrição asséptica de quem quer que o assunto fique num canto e não leve as pessoas a pensar em todas as suas conseqüências, ou no seu significado.

Foi desse jeito, quando o presidente Chávez determinou que a gasolina venezuelana fosse vendida a preços mais baixos na região atingida pelo furacão Katrina – New Orleans – que William Bonner explicou a estudantes e professores de jornalismo que a notícia não interessava, pois “nosso telespectador é como Homer Simpson, não quer saber de fatos assim e além do mais essa noticia contraria nossos amigos americanos”.

É comum esse tipo de empregado qualificado chamar o dono de amigo. Na mesma medida que esse dono, também não tem nem princípios e nem escrúpulos.

Às vezes se esquecem de combinar a farsa e acabam trombando. Foi o que revelou o jornalista Celso Lungaretti em episódio que envolve outro “militar patriota”, o célebre major Curió. Curió abriu a boca semana passada e confessou que muitos dos prisioneiros na guerrilha do Araguaia foram executados a sangue frio. A revista VEJA, preocupada com a queda na circulação, deu destaque às declarações de celerado Curió e a FOLHA DE SÃO PAULO, preocupada em agradar os patrões, também por conta da queda de circulação, mas noutra via, foi ouvir militares com coragem para mentir e desmentir Curió em nome do que a FOLHA chamou de “ditabranda”.

É tudo “patriotismo”,

O que o golpe em Honduras mostra é que esse tipo de “patriotismo” canalha continua vivo em setores de forças armadas latino-americanas. Que o arremedo neoliberal que chamam de “democracia” não está assim tão consolidado. E nem se fale que Honduras é um país de dimensões menores. Ano passado o general comandante militar da Amazônia – hoje na reserva – Augusto Heleno fez severas críticas à posição do governo Lula sobre terras indígenas, em franca defesa de latifundiários e empresas multinacionais na região, caso da VALE.

O general em questão, hoje na reserva, faz palestras pelo Brasil afora “alertando” sobre os riscos que os índios representam para o Brasil. Já a VALE… Paga as despesas.

E financia a mídia na linguagem do “progresso” concebida segundo os critérios das empresas, bancos e latifundiários que, em qualquer país como o Brasil, hoje em Honduras, são os principais acionistas do Estado. Como um todo. Poderes executivo, legislativo e judiciário. E por via das dúvidas forças armadas em sua maioria, pois de repente é preciso da borduna.

Nessa ótica é “notícia” a cozinheira de Michael Jackson. Explicando o que o cantor comia, ou que contava histórias para ele quando servia as refeições. Ou Regina Case fazendo com que as pessoas se vejam na senhora que apanha e coloca no bolso “brigadeiros” de festas infantis, numa perversa inversão de fatos que transforma a visão das elites sobre os mortais comuns, em fato hilário para os próprios mortais comuns. Para que se enxerguem ali em eventuais comportamentos constrangedores, digamos assim.

E achem graça. E consigam gargalhar de situações semelhantes que viveram. Ou que viram.

O desmonte do espírito crítico. O deboche. A criminalização de movimentos populares de índios, camponeses, trabalhadores como um todo. Os fatos ocultados, distorcidos, as mentiras vendidas à exaustão e que acabam virando “verdades”.

A memória curta. O extinto JORNAL DO BRASIL – um cadáver insepulto que teima em caminhar/circular – noticiou hoje no site na internet que o presidente Zelaya havia sido “preso e deposto por determinação da suprema corte”. Por ter contrariado a constituição do país.

Conceição Lemes, editora do site VI O MUNDO do jornalista Carlos Azenha, publica na edição de hoje uma entrevista com o escritor Urariano Mota, autor do livro “Soledad no Recife, a ser lançado em julho pela editora BOITEMPO.

Urariano conta a história da militante Soledad Barret Viedma presa e assassinada pela repressão. Estava grávida do cabo Anselmo – agente da ditadura militar que se fazia passar por líder de esquerda – e foi entregue ao assassino travestido de delegado Sérgio Fleury pelo próprio Anselmo.

A versão oficial, um “combate” com “terroristas” na chácara de São Bento, cenário montado para desova dos corpos de lideranças que se opunham à ditadura militar no Brasil, essa que a FOLHA DE SÃO PAULO chama de “ditabranda”. A FOLHA foi partícipe de uma das operações mais perversas do regime. A OBAN –OPERAÇÃO BANDEIRANTES – em que empresas financiavam órgãos de repressão para “libertar” o Brasil e “garantir a democracia”.

A entrevista de Urariano é um dos mais pungentes depoimentos sobre a barbárie desses “patriotas”. Tenham sido os brasileiros, os chilenos com Pinochet, ou agora, os generais remunerados a amostras grátis em Honduras.

Uma história, um fato, uma realidade, uma brutalidade, mas isso não importa à mídia chamada grande.

Os “incômodos” causados pela rede mundial de computadores, o que se convencionou chamar de “blog/esfera” já está sendo tratado pelos donos no projeto do senador Eduardo Azeredo. Corrupto de plantão para esse tipo de “trabalho sujo”. Censura.

O golpe em Honduras e sua verdadeira razão teria passado em brancas nuvens não fosse a rede. Ou a net como se costuma dizer.

Hospitais no País inteiro estão cheios de remédios contra a gripe suína. Médicos que se fazem respeitar pelo caráter e pela dignidade com que exercem a profissão já desmistificaram o novo vírus e já ensinaram a tratá-lo sem essa parafernália que gera concorrências públicas, compra de medicamentos e um estado de alerta e pânico, num vírus gerado no México, por uma indústria poluidora, expulsa dos EUA – lógico, colônias como o México existem para isso – no melhor estilo multinacional.

Os baluartes do progresso.

Importante é comportar-se de forma adequada em festas infantis e não colocar brigadeiros nos bolsos. Pode se dar mal com a segurança e virar historinha divertida no FANTÁSTICO.

PAPEL SOCIAL e REPÓRTER BRASIL denunciaram que madeireiras na Amazônia cometem constantes e deliberados crimes ambientais em parceria com grandes parceiros nos Estados Unidos. A MADEBALL – multas diversas – e a COMABIL (crimes ambientais, trabalho escravo, retirada de madeira em terras indígenas, invasão de terras públicas para desmatamento) e a RIO PARDO MADEIRAS entregam o produto do crime a VITÓRIA RÉGIA EXPORTAÇÕES, PAMPA EXPORTAÇÕES E INTERWOOD BRASIL, que transformam a madeira ilegal para empresas como a LUMBER LIQUIDATORS (140 lojas nos EUA, conforme a denúncia), a BRICO DÉPÔRT que, por sua vez, em países como os EUA, o REINO UNIDO, ITÁLIA, POLÔNIA, TURQUIA e CHINA, transformam tudo em casas do tipo “faça você mesmo”. E se estendem a ROBINSON LUMBER COMPANY que vende para mais de setentas países. Ou a MOXON TIMBER, que alcança os mercados norte-americanos, asiático, latino-americano e a Nova Zelândia.

A culpa é dos índios, ou é do presidente do Irã.

As recentes modificações feitas em medida provisória sobre terras na Amazônia atenderam, no Congresso, às reivindicações desse tipo de empresa. Têm na senadora Kátia Abreu, dos DEM, a representante mais legítima dessa espécie de destruição. São predadores.

Há uma investigação em curso sobre um estranho container que chegou ao Brasil vindo da Grã Bretanha com o registro de conter determinadas mercadorias. Estava trazendo lixo médico, hospitalar.

Não vira espetáculo na mídia. A mídia é paga para não deixar que as pessoas saibam disso.

O que está acontecendo em Honduras é pura barbárie. E por trás das notícias frias, aparentemente isentas divulgadas no Brasil pelas redes de tevê, grandes cadeias de rádio, jornais e revistas, está o sorriso do faturamento garantido. Nesse caso pelos grandes laboratórios.

Não está tão longe assim quanto se possa imaginar. Honduras é pertinho e os bandidos que lá atuam, atuam aqui também.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

ROSSONI ESQUIZOFRÊNICO

Por Claudio Fajardo

Não é muito aconselhável chamar alguém de esquizofrênico. Isto porque, se esse alguém o for, você estaria cometendo uma indelicadeza e, se não o for, você estaria ofendendo os que realmente o são. Todavia, não há como negar que a lógica do Rossoni não pode ser considerada como produto de uma de uma mente sã. Ele vem insistindo em vociferar contra os que denunciam as falcatruas da campanha do Beto Richa. Vejam bem: os parceiros do Beto Richa foram pegos com a boca na botija, foram filmados, gravados e deram testemunho em juizo de que os ex-candidatos a vereador pelo PRTB (a turma do Manasses) levaram dinheiro para desistirem de ser candidatos e passarem a apoiar Beto Richa. Isso é crime eleitoral. Diante disso, ao invés de condenar os atos criminosos ele, Rossoni, passa a condenar os que denunciam os atos criminosos.

O que é que se pode deduzir disso? O mínimo que se pode dizer é que não é uma atitude de uma pessoa ilibada, honesta e que cultiva os bons valores. Ou ele está acostumado com uma vida de falcatruas ou então está sofrendo de esquizofrenia.

Claudio Fajardo é colaborador do Bóia Quente

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Trabalhadores, aposentados e pensionistas, uni-vos

Do blog Pelos Corredores do Planalto

Desde 1999, quando foi aprovada Reforma Previdenciária e criado o famigerado FATOR PREVIDENCIÁRIO, todos trabalhadores brasileiros ao requerem suas aposentadorias, poderão ter desde início do recebimento de seus benefícios uma redução que pode atingir até 40% (quarenta por cento). Não só isso é grave, mas também são os reajustes anuais dos aposentados que recebem mais de um salário mínimo. Neste caso, somente nos últimos nove anos as perdas acumuladas superam 38%.

Neste exato momento vários Projetos de Lei estão em tramitação na Câmara dos Deputados, e são prejudicados em suas apreciações em função da ação dos Governistas. Exatamente, os mesmos Parlamentares que discursaram nas últimas eleições contra a Reforma Previdenciária de FHC. Resumindo, o Governo anterior fez o que era injusto para com os trabalhadores e aposentados, e o atual Governo quer manter tamanha injustiça de qualquer forma. Lula já declarou a sindicalistas que vetará qualquer mudança no regime previdenciário. O Governo, e alguns de seus pares, eleitos pelo Partido dos Trabalhadores, se transformaram nos principais adversários, antagonistas dos trabalhadores, aposentados e pensionistas do Setor Urbano brasileiro e contribuintes pela iniciativa privada (CLT).

Os projetos de lei são os seguintes:
VETO PRESIDENCIAL 288/06 ? Será deliberado pelo Senado no início de agosto. Trata-se do aceite ou não pelo Senado do veto feito por Lula que propiciaria 16,71% de aumento aos aposentados oriundos da iniciativa privada decorrente da variação do aumento do salário mínimo e do reajuste àqueles que recebiam mais de um salário mínimo de aposentadoria. Este direito dos aposentados é retroativo a 2006. O Movimento Nacional Dignidade aos Aposentados obteve até o momento a adesão pela derrubada do veto de 30 Senadores; e 6 outros Senadores; todos do Partido dos Trabalhadores são a favor da manutenção do veto; ou seja contra o aumento aos aposentados.

PL 3299/08 ? Extingue o Fator Previdenciário aos que irão se aposentar. Consiste em um fator depreciativo que leva em consideração de forma ponderada a idade; a alíquota e o tempo de contribuição no momento da aposentadoria além da expectativa de vida medida pelo IBGE. Em suam para o trabalhador não ter seu benefício reduzido em 40% se vê obrigado a contribuir por mais tempo e conseqüentemente receber por menos tempo após sua vida laboral. A manutenção deste fator como querem os Deputados da base governista, é uma extraordinária injustiça que penaliza o trabalhador por viver mais (expectativa de vida), que é uma constatação existente em todas as partes do mundo.

PL 4434/08 ? Reajusta os benefícios com base no número de salários mínimos que os aposentados recebiam no momento da concessão de suas aposentadorias. Tal qual o PL 3299/08 ? ambos derivados do PL 58/2003 já aprovado pelo Senado, também já foram aprovados por unanimidade na Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara, e agora estão a cargo dos Deputados Relatores literalmente parados na Comissão de Finanças e Tributação. O PL 3299/08; está nas mãos do deputado Pepe Vargas (PT/RS), que quer substituir o Fator Previdenciário por uma fórmula denominada 95/85 que continua a roubar os direitos dos trabalhadores. O PL 4434/08 está estagnado nas mãos do Deputado Antonio Palocci.
PL 01/07 ? Estende aos aposentados e pensionistas a mesma política de reajuste concedida ao salário mínimo, ou seja, a inflação anual e acrescendo-se a variação do PIB ocorrida dois anos antes (aumento real de acordo com o crescimento da economia do país). O projeto está pronto para a pauta de plenário; mas é trancada pelos Governistas.

O MOVIMENTO NACIONAL DIGNIDADE AOS APOSENTADOS formou-se para lutar pelos direitos de trabalhadores e aposentados.

O momento é decisivo e é necessário que você participe ativamente. Mande emails; ou abaixo assinados aos Deputados e Senadores exigindo que tais Projetos de lei sejam apreciados em regime de urgência. Louvemos os nossos direitos por um futuro melhor, acordemos deste sonho presunçoso de que a justiça nos será agraciada sem esforço e mobilização da nação. Tome para si esta causa; empunhe esta bandeira ela é maior que o nosso futuro, pois é o futuro dos nossos filhos.

A HORA É AGORA. Manifeste-se.

O Twitter, o Orkut, o Blog e a derrocada do autoritarismo na comunicação

Nenhuma organização se sente confortável quando um consumidor tece críticas a ela, particularmente quando isso acontece publicamente , sobretudo tendo a mídia como caixa de ressonância. Ela sempre imagina que a sua imagem resultará arranhada, o que pode ser absolutamente verdade (mas será que ela não mereceu o puxão de orelhas?).

É razoável aceitar que, quase sempre, ao ser criticada, uma organização (ou mesmo uma pessoa) entra mesmo nessa zona de desconforto, se coloca na defensiva ou busca argumentos contrários (mas nem sempre verdadeiros) para neutralizar crítica etc. Esta postura é normal porque esse negócio de dar a outra face depois de levar uma bofetada não se aplica bem ao universo dos negócios.

Mas não é normal, (na verdade, parece doentio) quando uma organização se empenha para calar as críticas, promove represálias aos descontentes ou ameaça com processos jornalistas e cidadãos que, merecidamente, resolvem pisar-lhe no pé. Encastelada na sua arrogância, não admite que possa estar errada ou que deva existir espaço no mercado e na sociedade para posições divergentes. Querem governar magnanimamente e desfilar sob aplausos. Mas está cada vez mais difícil conseguir ou impor unanimidade.

Há uma explicação (justificativa nunca!) para essa postura: as organizações costumam ser autoritárias simplesmente porque seus diretores (ou gestores em geral) ainda estão, em sua esmagadora maioria, amarrados a uma cultura retrógrada, dinossáurica, que encara as críticas como ameaças. Eles não conseguem perceber sinais de alerta ou mesmo sugestões brilhantes que brotam do terreno da boca ou da pena (mais recentemente da tecla) do adversário.

As empresas privadas ou públicas muitas vezes assumem esta atitude autoritária com o objetivo de instituir o silêncio, a falsa excelência de ações e processos, porque não estão dispostas, capacitadas a enfrentar as divergências. Fala-se muito em diversidade cultural, mas, na prática, são transgênicas, não diversas, defendem a tese da opinião unânime e, evidentemente, a seu favor. Proclamam-se sustentáveis, mas praticam o marketing verde e usam o discurso da responsabilidade social como disfarce.

A cultura da arrogância pode ser vista na postura da Petrobrás ( a empresa camaleão ? meio pública e meio privada) e, em particular do seu presidente (ganhou por causa disso até editorial do Estadão), que busca a todo custo, valendo-se do seu lado público (relação não transparente com governos e partidos), impedir que a CPI coloque o dedo nas suas feridas (vai ver elas são muitas e a Petrobras é muito sensível a dores!). Criou blog (e fez bem), afrontou os jornalistas (aí fez mal) e, respaldada no seu imenso poder econômico (seu lado privado), continua tentando, a todo momento, sufocar as divergências (mas, como diz o ditado, algumas coisas tendem a cheirar mal quanto mais se cutuca), hasteando a bandeira da transparência.

A cultura da arrogância pode ser encontrada na Telefônica que sempre buscou mascarar as suas mazelas tecnológicas e de pessoal até que os apagões e caladões na banda larga e na telefonia fixa não couberam mais debaixo do tapete. Fingiu pedir desculpas (funcionou uma vez), usou a mesma estratégia novamente, insistiu ainda de novo, mas, como só o discurso não resolve problemas reais, teve que pedir arrego e prometer investimentos imediatos (é bom ficar de olho porque culturas assim são melhores para prometer do que para cumprir). Está com a venda do Speedy suspensa, o que deveria mesmo acontecer até que ela arrumasse a casa, um desarranjo de dar dó (ostenta com galhardia o título de campeã de reclamações há muito tempo).

O momento exige mudanças. As organizações precisam, por uma questão de sobrevivência, conviver com a divergência porque ela será sempre maior, tendo em vista o aumento da concorrência, a visão mais crítica dos consumidores e o avanço da legislação que tolera cada vez menos abusos (embora a Justiça seja conivente com os faltosos, vide o Senado brasileiro, paraíso de mordomos, sobrinhos, netos e mausoléus!).

Um exemplo interessante foi relatado em reportagem da BusinessWeek, publicada no Valor Econômico (22/06/2009, p. B3) sob o título Na Nokia, falar ?mal? da companhia dá recompensa. Segundo matéria assinada por Jack Ewing, diretamente de Frankfurt, Alemanha, ? no terceiro trimestre de 2008, a Nokia estabeleceu uma intranet chamada Blog-Hub, abrindo a rede aos funcionários blogueiros de todas as partes do mundo. Escrevendo sob pseudônimos como ?Hulk? e ?Agulha?, os funcionários podem ser cruéis, atacando seus empregadores por tudo, desde as práticas de compras à velocidade do software dos celulares. Em vez de ?acabar com a festa?, os administradores da Nokia querem que eles ?botem tudo para fora?.

É evidente que as críticas toleráveis, mesmo na Nokia, limitam-se a produtos e processos, mas isso já é um avanço. Falar das chefias incompetentes talvez não seja razoável na Dinamarca como não costuma ser em qualquer empresa brasileira. Que funcionário da Petrobras teria coragem de dizer ao Gabrielli que ele é arrogante? Que funcionário da Telefônica terá coragem de dizer ao Valente (com esse nome fica mais difícil mesmo!) para ele parar de vender Speedy porque não há estrutura que suporte tanta ligação? Mas a gente pode, o Estadão pode, a Aneel pode e, eles gostem ou não, vão ter, como diz o Zagalo, que engolir sem mastigar.

As empresas não estão mais, embora algumas insistam em fechar os olhos para a realidade, blindadas contra as críticas porque as redes sociais, o Twitter, o Orkut, os blogs, os grupos de discussão, passaram a ser ambiente propício para esta modalidade nova de ?rádio peão?eletrônica para a qual não há controle e censura que dêem jeito. Basta não andar na linha, basta desrespeitar o consumidor, praticar o assédio moral contra funcionários (será que o ambiente da AmBev já melhorou depois de tantos processos movidos por ex-colaboradores?) ou prejudicar os investidores (que a Aracruz e a Sadia tenham aprendido a lição!) para que a comunicação máquina-a-máquina funcione a todo vapor. E o ruído silencioso das redes sociais , da comunicação eletrônica é mais devastador do que o dos megafones e carros de som tradicionais.
Não há saída: a sociedade conectada não favorece o controle, torna ineficaz a estratégia antiga (infelizmente ainda utilizada em centenas de cidades brasileiras por empresas e autoridades) de cooptar veículos de comunicação em troca de anúncios, por amizade etc ou mesmo de ameaçar jornalistas/radialistas que insistem em denunciar escândalos políticos ou econômicos.

Hoje somos milhões de cidadãos mobilizados e munidos de trombones digitais para literalmente botarmos a boca no mundo, se necessário. Não dá para subornar todos nós, silenciar todos nós, mesmo porque, felizmente, sempre existirão muitos, cada vez mais, que repudiam ameaças e não se vendem por coisa alguma. Há um rascunho de cidadania planetária sendo escrito em cada jovem que nasce neste mundo conectado, mas ainda devastado, contaminado por agrotóxico, sem ética e sem solidariedade humana. Essa geração, se não reprimida, pode alterar as regras do jogo que foram impostas há tempo por corporações poderosas, governos totalitários, parlamentares corruptos e empresários inescrupulosos.

As empresas devem contemplar as críticas como sinais de alerta porque boa parte delas se origina de motivos concretos ou até da sua incompetência em estabelecer diálogo com os seus públicos de interesse. Muitas preferem monitorá-las com o objetivo de desenvolver ações de intimidação ou de cooptação (continuam acreditando que toda pessoa tem seu preço!) em vez de ouvirem com mais cuidado e respeito porque consumidores, funcionários, na maioria dos casos, apenas querem colaborar, ainda que o tom não seja em princípio cordial (o que faria você se ficasse sem telefone ou internet o dia todo e dependesse deles para fechar negócios, conversar com parentes e amigos?).

As organizações precisam recrutar pessoas, especialmente líderes autênticos (há chefes que não lideram coisa alguma e que só se impõem pela possibilidade que as empresas lhes dão de chicotear aqueles que os contestam), que estejam dispostos a esta interação com humildade, praticando, interna e externamente, uma autêntica gestão de informações e de conhecimentos.

Os consumidores e a sociedade tendem a ser cada vez mais plurais em contraposição à tendência monopolista dos mercados. Mas essa conta, que não fecha, não será resolvida com tranqüilidade porque os espaços de comunicação e de crítica se tornarão cada vez maiores e mais ruidosos. Contra a pressão de gravadoras e editoras, compartilhamento de material (arquivos, músicas) na web; contra software proprietários , o software livre. Contra Gabriellis e Agnellis, se postarão Silvas, Joãos e Antônios que não curvam a espinha. Contra congressistas sem ética, existirão blogueiros e twitteiros com a língua afiada e os dedos ligeiros.

Seremos todos piratas (no bom sentido ) no futuro, mesmo que essa realidade pareça distante neste momento. Teremos que compartilhar valores, saberes, informações, conhecimentos se quisermos sobreviver em paz.

Até que isso aconteça, o negócio é resistir ao autoritarismo (o exemplo de Honduras indica que as ditaduras são cada vez menos toleráveis) de chefias, de empresas, de governos. Contra a censura, a auto-censura e o grito, usaremos o sarcasmo, a ironia, a conversa ao pé do fogo. Contra Davos o Fórum Social. Contra latifúndios (na agricultura e na mente), lançaremos mão da nossa opinião diversa, avessa à transgenia cultural e defenderemos, com veemência, a bio e a sociodiversidade.

Comunicação democrática, diálogo, relacionamento saudável são atributos de uma organização moderna e, ainda que lentamente, a utopia da prevalência da solidariedade humana se fortalecerá porque, gradativamente, este será o desejo (e a necessidade) de todos nós.

As mulheres do Irã, os agricultores familiares, os excluídos pelas barragens, os indígenas e quilombolas expulsos pelos grandes projetos de mineração e de papel e celulose (vide Aracruz no Espírito Santo!), os trabalhadores escravizados por madeireiras e usineiros sem escrúpulos encontrarão mais facilmente vozes para defendê-los. O meio ambiente preservado já é, por exemplo, uma aspiração de todos nós e essa luta nos mobiliza planetariamente. Bush já era, assim como perderão voz e vez o presidentes arrogantes das empresas nacionais e internacionais.

Entramos na era das redes, dos movimentos organizados, da comunicação crítica e, neste novo cenário, as organizações e os governos terão que fazer o jogo da contemporaneidade.

Twitter, Orkut, ?rádio peão? e blogs irreverentes serão nossas enxadas eletrônicas contra empresas e chefias autoritárias. Um dia, aquela frase hipócrita ? ?o funcionário é o nosso maior patrimônio ? (não é, Embraer?) ? deixará de ser apenas um discurso vazio que freqüenta folders e vídeos institucionais e vigorará na prática.

As organizações e governos que quiserem ?pagar para ver? levarão um tranco fenomenal. Quando a utopia se transformar em realidade, não haverá espaço para ditadores ou privilegiados, em Honduras ou no Senado. E isso só acontecerá, se acreditarmos nisso e estivermos dispostos a realizar as mudanças necessárias. O Twitter, o Orkut, os portais, os blogs são a nossa nova arma. Estamos nos preparando para a luta. E você está convidado.

As novas gerações darão o golpe fatal nas empresas, governos , oligarquias e patrões que, depois de terem avançado sobre o nosso passado, ainda tentam impedir no presente que a gente construa o nosso futuro.

Twittemos todos. A verdade é filha do tempo e não da autoridade (Goeth?).

* Wilson da Costa Bueno é jornalista, professor da UMESP e da USP, diretor da Comtexto Comunicação e Pesquisa. Editor de 4 sites temáticos e de 4 revistas digitais de comunicação.

Um novo Senado?

A crise vivida pelo Senado da República é uma oportunidade para se debater e esclarecer à sociedade o seu papel e funções e, mais do que isso, promover a necessária reforma que traga uma ampla revisão do seu papel.

Se a Câmara dos Deputados tivesse aprovado em primeiro lugar a reforma político-institucional, esta obrigatoriamente retornaria ao Senado que aí teria o dever constitucional de discutir sua própria reforma com pontos como o fim dos suplentes, e a redução do tamanho do mandato e do número de senadores por Estado. O ideal, por exemplo, é que voltasse a ser dois por unidade da federação e não três como hoje.

Mas, o fato é que o Senado aprovou primeiro a reforma - a que diz respeito aos deputados e não a que lhe diz respeito. Legislou sobre a fidelidade partidária, o financiamento público de campanha, o voto em lista, a entrada em vigor da cláusula de barreira, e o fim das coligações proporcionais, alterações que agora estão para ser votadas na Câmara dos Deputados.

Surpreende que assim tenha procedido, postergando sua própria reforma, mesmo após ter vivido outras crises, como as da violação do painel e a destituição de três presidentes, os senadores Jáder Barbalho (PA) e Renan Calheiros (AL), ambos do PMDB, e Antônio Carlos Magalhães BA), do DEM Bahia - este, então, o todo poderoso chefe da oposição.

Muitos estudiosos e articulistas tem classificado a Casa como uma câmara alta revisora e conservadora, mas o Senado brasileiro é muito mais do que um poder moderador.

Ele é um contrapeso às reformas e mudanças. Sua natureza não é democrática - ou melhor, ele desequilibra os mecanismos de contrapesos necessários na democracia representativa, particularmente no presidencialismo.

Hoje os parlamentares com assento no nosso Senado são eleitos majoritariamente por 8 anos, com suplentes (que não recebem um único voto) indicados pelo próprio senador titular do mandato, ou pelo partido aliado à sua legenda.

São eleitos três por Estado, com poderes superiores aos da Câmara dos Deputados, quando esta é que representa a nação e é eleita proporcionalmente, em que pese a distorção provocada pela legislação ao estabelecer um mínimo de oito deputados e o máximo de 70 por unidade federada, o que faz com que 14 Estados com menos de 25% do eleitorado tenham a maioria na Casa.

A atual crise exige uma ampla reforma administrativa no Senado. É a oportunidade, repito, de o país discutir, e muito, o papel da Casa. Eu não diria a sua extinção, já que um país tão desigual, plural e diverso como o Brasil, com grande tradição federativa e desequilíbrios regionais gravíssimos, exige a existência de um Senado para representar a Federação.

Representá-la e defender os Estados menores e/ou mais pobres, para não apenas manter o equilíbrio federativo mas, também, ser um instrumento de autodefesa contra as maiorias que se formam na Câmara dos Deputados.

Passa por aí o novo papel do nosso Senado, e não o de ser uma câmara alta revisora com direito inclusive de iniciativa em matérias básicas e super poderes. Alguns, reconheçamos, até próprios de instituição federativa como autorizar os empréstimos dos Estados.

Mas outros, como a aprovação da indicação dos ministros dos tribunais superiores, embaixadores, diretores das agências reguladoras, julgamento do presidente da República e de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), somados à sua função de câmara alta revisora, dão ao Senado um papel que diminui o da Câmara dos Deputados, esta representante da nação brasileira e da soberania popular.

Assim não basta uma reforma administrativa no Senado e nem a imposição de regras para o uso de seus recursos orçamentários, contratação de funcionários e forma de realizar licitações.

É preciso rever seu papel e fazer sua própria autoreforma política. Não se pode esquecer que todo esse poder, sem a reforma política, sem financiamento público de campanhas, e sem a fidelidade partidária leva à atual situação onde os senadores se consideram acima dos ditames constitucionais e isentos de prestar contas à cidadania a não ser a cada oito anos.

É preciso lembrar ainda o fato de que além de todo o poder de que dispõem, os senadores contam com a utilização da máquina da Casa, o uso e abuso do poder econômico dos suplentes - que hoje constituem 1/3 em exercício no Senado e que, em muitos casos, financiam suas campanhas e depois assumem o mandato - e o controle que exercem sobre grupos de comunicação em seus Estados que, na maioria do casos, já governaram.

Assim como está hoje definido na Constituição e no ordenamento político do país, o Senado se transformou de fato numa fortaleza não só da oposição mas do conservadorismo e do poder oligárquico. É hora de mudar. Esta é a hora da reforma.

José Dirceu é ex-ministro-chefe da Casa Civil da Presidência da República