terça-feira, 28 de julho de 2009

O ocaso do coronel

por Lúcia Hipólito

As mais recentes denúncias sobre as estripulias do senador José Sarney
estão longe de ser as últimas e apontam na mesma direção de todas as
anteriores: a privatização de recursos e espaços públicos em benefício
próprio. Ou de sua família. E o desprezo às leis do país.

Senão vejamos. Distraído, Sarney não reparou que recebia mensalmente
R$ 3,8 mil de auxílio-moradia, mesmo tendo mansão em Brasília e tendo
à disposição a residência oficial de presidente do Senado.

Culpa da burocracia do Senado.

Distraidíssimo, Sarney esqueceu de declarar sua mansão de R$ 4 milhões
à Justiça Eleitoral.

Culpa do contador.

Precavido, requisitou seguranças do Senado para proteger sua casa em
São Luís – embora seja senador pelo Amapá.

Milionário (embora o Maranhão continue paupérrimo), não empregou duas
sobrinhas e seu neto em suas inúmeras empresas. Preferiu que se
empregassem no Senado.

Milionário generoso, não quis deixar a viúva de seu motorista ao
relento. Empregou-a para servir cafezinho no Senado, em meio
expediente, com salário de R$ 2,3 mil. Ah, e alojou-a em apartamento
na quadra dos senadores.

Generoso, não impediu que seu outro neto fizesse negócios milionários
com crédito consignado no Senado.

Ainda generoso, entendeu que um agregado da família deveria ser também
empregado como motorista do Senado – salário atual de R$ 12 mil – mas
trabalhando como mordomo na casa da madrinha, sua filha e então
senadora Roseana Sarney.

Aliás, Roseana considerou normal convidar um grupo de amigos fiéis
para um fim de semana em Brasília – com passagens pagas pelo
Congresso.

Seu filho, Fernando Sarney, o administrador das empresas, que sequer é
parlamentar, considerou normal ter passagens aéreas de seus empregados
pagas com passagens da quota da Câmara dos Deputados.

Patriarca maranhense, ocupou as dependências do Convento das Mercês,
jóia do patrimônio histórico, e ali instalou seu mausoléu. O
Ministério Público já pediu a devolução, mas está complicado.

Não é um fofo?

Um dos mais recentes escândalos cerca justamente a Fundação José
Sarney, que se apoderou das instalações do Convento das Mercês. Consta
que R$1.300 mil captados através da Lei Rouanet junto à Petrobrás,
para trabalhos culturais na Fundação José Sarney foram... desviados.

Não há prestação de contas, há empresas-fantasmas, notas fiscais esquisitas.

Enfim, marotice, para dizer o mínimo. Mas Sarney alega que só é
presidente de honra da Fundação.

Culpa dos administradores.

E o escândalo mais recente (na divulgação, não na operação): Sarney
seria proprietário de contas bancárias no exterior não declaradas à
Receita Federal. Coisa do amigão Edemar Cid Ferreira, amigão também da
governadora Roseana Sarney a quem, dizem, costumava emprestar um
cartão de crédito internacional. Coisa de gente fina.

Em suma, acompanhando as peripécias de José Sarney podemos revelar as
entranhas do coronelismo, do fisiologismo, do clientelismo. Do
arcaísmo.

Tudo isto demora a morrer. Estrebucha, solta fogo pela venta. Mas um
dia desaparece.

Tal como os dinossauros.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Se não tiver conta no Google, opte por "Comentar como: Nome/URL", sendo que o campo URL não precisa ser preenchido.

Não serão tolerados ataques pessoais.