terça-feira, 23 de outubro de 2012

VIVA AS MÃES DA PRAÇA DE MAIO !

Argentina: Avós da Praça de Maio completam 35 anos de luta


Nesta segunda-feira (22) As Avós de Praça de Maio completam 35 anos de luta e busca incessante por netos apropriados durante a última ditadura militar argentina. Até o momento, 107 crianças foram identidades. Leia a entrevista realizada com a presidenta da instituição, Estela de Carlotto.

Por: Ailín Bullentini, em Página12


Ailín Bullentini: O que significa para vocês o encontro com um neto procurado?
Estela de Carlotto: É a maior alegria, é inimaginável. É um milagre, porque nos representa, em carne e osso e diante de nossos olhos, aquele bebê sonhado, visto em foto, convertido em um homem ou mulher. É uma festa em toda a instituição. Às vezes, com o tema das nominações ao Prêmio Nobel da Paz [nominadas pelo 5º ano consecutivo] e todas as demonstrações de pessoas que gostam de nós e querem nos reconhecer, dizemos que se tranquilizem, porque não buscamos mais prêmios do que o maior e único: encontrar cada neto roubado.

Ailín Bullentini: Que lugar a Instituição ocupa na sociedade?
EC: Ocupamos o lugar de mulheres que saímos, sempre fomos mulheres, em sua maioria. Nas mães, em familiares, também. Porém, não houve exclusão, mas intenção de proteger nossos homens para que não desaparesessem. Sempre nos consideraram inferiores e o machismo das forças armadas e de segurança, é incrível, nos deixaram caminhar. Quando se deram conta da nossa luta era tarde para nos calarem. Também ocupamos o lugar das mães que, a partir do amor para seus filhos e netos, que não tem limites nem datas, nunca esquece nem acaba. Sempre exercemos este amor, em paz e com respeito. Por isso quando se fala da nossa luta não se fala de rancor nem ódio, mas da necessidade iniludível de justiça. Isto aconteceu aqui e afetou a toda a Argentina.

Ailín Bullentini:A participação da sociedade na busca das Avós cresceu?
EC: Claro. Tivemos a liberdade da democracia, de poder expressarmos; a convocatória do Estado para derrubar e difundir nossa luta através da educação; a possibilidade de contar nossa história através da arte também, mostras, fotos, filmes; a presença da nossa busca nos meios de comunicação comprometidos com este tema ... tudo isso fez com que a última década fosse muito frutífera e de muita possibilidade de conscientizar a população do que contamos existiu e que tem que nos ajudar. Nossa instituição cresce a cada dia. Os espaços físicos já não nos alcançam para albergar aos que colaboram conosco nas diferentes disciplinas, porque não ficamos dentro de casa e também queremos contribuir a que se erradiquem do país as violações a todos os direitos humanos.

Ailín Bullentini: Quais foram os principais passos que as Avós da Praça de Maio deram durante este ano?
EC: O mais importante que nos acontece e aconteceu, ano após ano, é o encontro de netos. Em cada um deles cumprem-se o objetivo da nossa instituição: devolver para eles a identidade, seu vinculo familiar, sua história verdadeira. O triunfo da verdade sobre a mentira e um passo mais no rompimento do plano sistemático da ditadura. Em um ano que não encontramos nenhuma criança nos preocupa e dói...

Ailín Bullentini: Foi um ponto de inflexão nos 35 anos do caminho recorrido o fracasso pelo plano sistemático do roubo de bebês?
EC: Foi uma longa história essa luta. Em 1996 nós pedimos para a Justiça que considere o delito do roubo de bebês durante a ditadura como o que acreditávamos que era: um plano sistemático, premeditado e preparado dos militares para ficarem com os filhos dos nossos filhos que nasciam em cativeiro. Diz-se que a justiça é lenta e verdadeiramente é. Recentemente, neste ano reconheceu que existiu este plano e condenou a quem consideraram responsáveis. O mais emblemático da condenação foram os 50 anos a Videla. Que estes personagens que tem “cara de pau”, porque realmente é horrível ver a falta de humanidade que tem, serem condenados nos dá um motivo para festejar.

Ailín Bullentini: 
Como vivem as novidades no caso Herrera de Noble e o tratamento que midiaticamente foi feito sobre o assunto?
EC: O mais importante, que nos interessa destacar é que quando procuramos, procuramos netos. Bebês que foram roubados por quem são verdadeiros delinquentes. Neste caso ou em qualquer outro, não nos importa se o sobrenome é Herrera de Noble ou Pérez. O que nos interessa são os netos, como estão. No marco de uma denúncia que realizamos nasceu um julgamento, como qualquer outro julgamento, que provoca reação midiática deste grupo, uma guerra com a Justiça para querer impor um acionar ilícito. Finalmente, a confrontação dos perfis genéticos de Marcela e Felipe Herrera de Noble com os do Banco Nacional de dados Genéticos deu como resultado que não podem dizer, com este elementos, que são filhos de desaparecidos. A suspeita persiste, mas não está provada. Conseguiu-se que os estudos de ambos ficaram alojados no banco para que talvez, no futuro, possa aparecer alguém que os peça como familiar.

Tradução da redação do Vermelho

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