quarta-feira, 14 de abril de 2010

A História exige explicações

por Carlos Chagas

Acima e além da prescrição que já deve ter ocorrido com o crime de aliciamento para assassinato, fica evidente não poder passar em branco a denúncia feita pelo general Newton Cruz, em recente programa de televisão, a respeito da visita que lhe fez Paulo Maluf, pedindo-lhe providenciar a morte de Tancredo Neves. São desvãos da crônica política nacional que, quando menos se espera, aparecem.

No começo de 1985 o general Newton Cruz era comandante militar do Planalto. Contou que num sábado pela manhã jogava peteca com amigos, em sua residência, quando o então candidato presidencial apareceu. Recebeu-o e ouviu que o país não poderia cair nas mãos da oposição, chefiada por Tancredo. Àquela altura, estava claro que Maluf seria derrotado no Colégio Eleitoral. A única solução, para o visitante, seria os militares darem sumiço no ex-governador de Minas.

O general conta que ouviu a proposta e imediatamente pediu que Paulo Maluf se retirasse. Acrescentamos que, correta ou não a versão, 25 anos depois, a verdade é que a assessoria de Tancredo providenciou minucioso plano de retirada do candidato de Brasília, por estradas de terra no entorno da capital federal, para chegar a um pequeno aeroporto onde um teco-teco permaneceu muitos dias de plantão, com piloto e tudo o mais, pronto para voar para Minas.

O episódio precisa ser elucidado. Paulo Maluf tem que dar sua explicação, inclusive por que, depois, tentou processar o general Newton Cruz. A História exige.

Proibido fumar em todo o território nacional?

Na recente entrevista de José Serra à Jovem Pan, uma pergunta gerou sonora gargalhada do candidato, mas sem a consequente negativa que seria natural. Ele foi indagado se, caso eleito, um de seus primeiros decretos seria proibir o cigarro em todo o território nacional. Riu, para depois alinhar as medidas que tomou ao longo dos anos contra o fumo: ministro da Saúde, obrigou as fábricas de cigarro a estamparem nos maços horrorosas fotografias de mutilados, com a indicação do fumo como causa. Proibiu que se fumasse no prédio do ministério. Estendeu a proibição aos aviões comerciais. Como governador de São Paulo, patrocinou legislação banindo o cigarro de todos os recintos fechados, públicos ou privados. Conseguiu que o país inteiro adotasse a restrição.

Não parece fora de propósito que, eleito presidente da República, Serra continue a puritana cruzada em defesa da saúde da população. Com todo o respeito, porém, vai uma observação: para obter rápido o resultado final, não seria preferível proibir a existência de fábricas de cigarro em todo o Brasil? Punir o comércio e até o cultivo do fumo? Haverá coragem?

Exageros

Que Dilma Rousseff vem escorregando em seus improvisos e entrevistas, não haverá que negar, tornando-se desnecessário repetir as impropriedades por ela exaradas com relação às eleições no Rio e em Minas, além de críticas feitas aos exilados do regime militar.

Convenhamos, porém, que seus adversários estão exagerando, na mídia e fora dela. Nem tudo o que a candidata fala deve ser recebido com má-fé e ironia. Por exemplo: foi ao Ceará, na segunda-feira. Acusaram-na de não ter convidado Ciro Gomes.

Aqui para nós, não poderia nem deveria. Ciro insiste em que será candidato ao palácio do Planalto. Como, então, no papel de sua concorrente, Dilma deveria incluí-lo em sua comitiva? Seria, mais do que provocá-lo, ofendê-lo.

É bom procurar as raízes dessas críticas descabidas no próprio Ceará. Quem manda lá é o senador Tasso Jereissati, adversário ferrenho do Lula, de Dilma e do governo. E íntimo amigo de Ciro Gomes. Como as eleições para o Senado andam difíceis no estado, parece que vale tudo.

Abril vermelho

Recrudesce o MST, tentando pintar de vermelho o corrente mês de abril, como aconteceu em outros. Fica até difícil entender porque a escolha, entre outras onze que poderiam ter sido definidas. O diabo é que o movimento dos sem-terra, de maior fenômeno político acontecido no Brasil em muitas décadas, caminha célere para transformar-se num partido sectário. Invadir usinas e propriedades improdutivas, no Nordeste, faz parte do jogo, mas edifícios urbanos do Incra e outras repartições, como no interior de São Paulo, além de inócuo, é burrice. Apenas um convite a que a polícia tente reconquistar próprios do estado, gerando confrontos e conflitos.

Aliás, a respeito do MST, seria bom que algum veículo de comunicação fizesse ao líder João Pedro Stédile a pergunta que não quer calar: acha que o presidente Lula cumpre suas promessas de campanha e realiza uma verdadeira reforma agrária no país? Ou vai ficar devendo horrores, quando deixar o poder?

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