sábado, 30 de outubro de 2010

A reforma da reportagem política

Por Villas-Bôas Corrêa

Parece precipitação de repórter veterano, em fim de carreira, e é mesmo. Uma pressa que se justifica por várias razões. Não chega a uma dezena os que ainda brigam contra a aposentadoria. No meu caso, a um passo da desistência.
Mas o nosso legado deve orientar a reforma que não pode inverter a ordem natural das coisas. Nós de cá e novo Congresso de lá, temos muito que aprender um com o outro. Pois, se não há Congresso sem a cobertura da imprensa, a recíproca é de evidência translúcida.

A queda do Estado Novo de Getulio Vargas, em 29/10/1945, um estadista que chegou ao poder na crista da revolução de 1930, trouxe da experiência como governador do Rio Grande do Sul a maturada certeza de que a economia centralizada na exploração do café, que não é nem sobremesa, clamava por uma sacudidela que só seria possível com as facilidades da ditadura. E esta foi à bandeirola do Estado Novo. Ditadura para valer, com o Congresso fechado, polícia especial para convencer os recalcitrantes, o Departamento de Imprensa e Propaganda, o DIP de Lourival, para a tarefa em mão dupla de corromper e calar jornais, revistas, emissoras de rádio.

A ditadura militar dos cinco generais presidentes – Castello Branco, Costa e Silva e o apêndice da Junta Militar no bis do golpe do AI-5, Garrastazu Médici, Ernesto Geisel e João Batista Figueiredo, fez tudo na contramão do bom-senso.
São fantasmas do passado. No adeus do Estado Novo, com a convocação da Assembleia Constituinte o pitoresco entreato do governo do presidente do Supremo Tribunal Federal, o simplório José Linhares, aproveitou a sua breve interinidade – 29/10/1945 a 31/01/1946 – para nomear toda a parentela. O deboche mereceu da Última Hora, de Samuel Wainer, nota de primeira página, com a convocação dos parentes e afins para a escolha das vagas na fila dos que mamam nas tetas da Viúva. E o arremate do deboche: os que não comparecerem serão nomeados à revelia.

O mais brilhante Congresso depois do Estado Novo, com o fim da censura imposta aos jornais, os severos matutinos para a leitura da família e os vespertinos na volta do trabalho, vendidos pelos jornaleiros equilibrados nos estribos dos bondes ou nos ônibus da classe média, assumiram o desafio de montar equipes para a cobertura do Senado e da Câmara dos Deputados.

Para a emergência, foram convocados os veteranos em disponibilidade durante a ditadura. E ainda em plena forma, como Prudente de Morais, neto, o sábio Pedro Dantas de texto impecável e um fervoroso republicano; Otávio Malta que brilharia na Última Hora, ; Samuel Wainer, o grande repórter, amigo de Getulio Vargas; Costa Rego, do Correio da Manhã, ; Osório Borba do, Diário de Notícia ; e Carlos Lacerda que sustentou a coluna Da Tribuna da Imprensa, no Correio da Manhã, que depois seria o título do seu incendiário vespertino.

Não há pressa. Antes de eleito e empossado o sucessor ou a sucessora do presidente Lula, da reabertura do renovado Senado e da Câmara, mais da metade de ilustres desconhecidos, estreantes que começam sem passar pela vereança municipal e pelas assembleias estaduais, os editores dos jornais e revistas se antecipam para o reforço da equipe de repórteres para a cobertura do Senado e da Câmara, da patusca bagunça de Brasília, o Distrito Federal que virou um mafuá. E os de cada estado, das assembleias e câmaras de vereadores.

Da brilhante geração de Castelinho, o maior repórter político de todos os tempos, de Odylo Costa, filho, de Marcelo Pimentel, Benedito Coutinho, de Antonio Carboni, poucos continuam no batente: Wilson Figueiredo, Dora Kramer e o acadêmico Murilo Mello Filho, que nunca deixou de ser jornalista. E o veterano que assina este artigo.

E que prolonga a despedida, por pouco tempo.

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