quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Brasil é referência em cooperação sul-sul

Bolsa Família e programa anti-Aids estão entre ações que chamam atenção de outros países em desenvolvimento, diz pesquisadora

Ministério das Relações Exteriores/Divulgação
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BRUNO MEIRELLES
da PrimaPagina

O Brasil se consolida como uma das referências na cooperação entre países em desenvolvimento, compartilhando experiências bem sucedidas na área social e obtendo com isso mais força geopolítica e maior poder de barganha, avalia a pesquisadora Michelle Morais de Sá e Silva, da Universidade de Columbia (EUA).

“Desde o início dos anos 1990 o Brasil é referência por conta do seu programa de DST/AIDS. Hoje, podemos dizer que é o Bolsa Família que chama a atenção de outros países, que querem conhecer de perto nossa experiência. Com isso, o Brasil está tomando ciência de seu próprio potencial no setor”, afirma a especialista.

Michelle é autora do artigo “Como Chegamos até aqui? Os Caminhos da Cooperação Sul-Sul”, que abre a 20ª edição da "Poverty In Focus", uma revista do CIP-CI (Centro Internacional de Políticas para o Crescimento Inclusivo), um órgão do PNUD em parceria com o governo brasileiro. Publicado originalmente em inglês, esse número ganhou em agosto tradução para o português.

Em seu texto, a pesquisadora observa que nos últimos dez anos o mundo tem visto uma ampliação da ajuda entre países em desenvolvimento — conhecida no jargão diplomático por cooperação sul-sul. A tendência acompanha o fato de algumas dessas nações terem crescido rapidamente e realizado avanços sociais, tornando-se exemplos a serem seguidos por outras economias emergentes.

Os problemas que afetam o antes chamado Terceiro Mundo e a necessidade de superá-los ganharem especial destaque com o compromisso comum em torno dos ODM (Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, uma série de metas que os países da ONU, inclusive o Brasil, se comprometeram a alcançar até 2015, incluindo áreas como combate à extrema pobreza e à fome e promoção da igualdade entre os sexos).

Esses fatores levaram os países em desenvolvimento a unir forças, criando grupos como o BRIC (formado por Brasil, Rússia, Índia e China), IBAS (Índia, Brasil e África do Sul) e G-20. Michelle caracteriza-os como uma ferramenta de fortalecimentos político do Sul, expandindo suas ações para setores sociais, como educação e saúde.

Histórico

O atual estágio de ajuda internacional, caracterizado pelo auxílio sul-sul, é, segundo a pesquisadora, a terceira fase de um processo que teve início com a noção de “regiões subdesenvolvidas do mundo”. O termo foi cunhado pelo presidente norte-americano Harry Truman num discurso de 20 de janeiro de 1949 para designar as nações que lutavam para superar a herança colonial e sofriam pressão para tomar partido na Guerra Fria.

A compreensão de seus interesses comuns foi a semente da criação de marcos institucionais para a cooperação entre nações do hemisfério Sul, como o Movimento dos Países Não Alinhados e o Grupo dos 77 (G-77). Tais iniciativas, no entanto, foram abaladas pelas duas crises do petróleo nos anos 1970, que fizeram com que esses países entrassem na década seguinte assolados por dívidas, reduzindo os esforços de ajuda mútua.

O renascimento da assistência internacional só ocorreu nos anos 90, como uma tentativa de barrar o aumento da pobreza e da desigualdade, o desmantelamento de serviços sociais e o a falta de controle dos fluxos financeiros. Porém, a ajuda se caracterizava por ser oferecida dos países do Norte para os do Sul. “Ainda se tratava de uma espécie prescritiva de cooperação, baseada nas experiências do Norte e nas teorias tradicionais ali desenvolvidas”, escreve Michelle no artigo.

Esse tipo de ajuda, avalia a autora, gerou decepção por não ter sido capaz de levar desenvolvimento a uma parcela expressiva da população. Isso criou um anseio por um modelo novo e eficaz, culminando no atual momento de cooperação. “As fases iniciais de cooperação eram mais focadas no comércio, para que os países ganhassem maior autonomia frente às grandes potências. Hoje, há uma grande diversificação de projetos, envolvendo a área social, a científica, entre outras”, afirma a pesquisadora.

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