quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Mensagem ao presidente da República Bolivariana da Venezuela

(Extraído do Cubadebate)
>
> Caro Hugo:
>
> * COMPLETAM-SE hoje 15 anos do nosso encontro na Aula Magna da
> Universidade de Havana, em 14 de dezembro de 1994. Na noite anterior,
> tinha esperado você ao pé da escada do avião que o trouxe a Cuba.
>
> Conhecia do seu levantamento em armas contra o governo pró-ianque da
> Venezuela. Em Cuba tinham chegado notícias de suas idéias quando
> estava na cadeia, e tal como nós, consagrava-se ao aprofundamento do
> pensamento revolucionário que o levou ao levantamento de 4 de
> fevereiro de 1992.
>
> Na Aula Magna, de forma espontânea e transparente, você exprimiu as
> idéias bolivarianas que levava dentro de si, e que lhe conduziram, nas
> condições específicas do seu país e da nossa época, à luta pela
> independência da Venezuela contra a tirania do império. Depois do
> esforço de Bolívar e demais colossos que, plenos de sonhos lutaram
> contra o jugo colonial espanhol, a independência da Venezuela era
> apenas uma ridícula aparência.
>
> Nenhum minuto da história é igual a outro; nenhuma idéia ou
> acontecimento humano pode ser julgado fora de sua própria época. Tanto
> você quanto eu partimos de conceitos que foram evoluindo ao longo de
> milênios, mas têm muito em comum com a história longínqua ou recente
> em que a divisão da sociedade em donos e escravos, exploradores e
> explorados, opressores e oprimidos sempre foi antipática e odiosa. Na
> época atual, constitui a maior vergonha e a principal causa da
> infelicidade e do sofrimento dos seres humanos.
>
> Quando a produtividade do trabalho, apoiada hoje na tecnologia e na
> ciência, se multiplicou por dezenas e em alguns aspectos centenas e
> até milhares de vezes, tais e tão injustas diferenças deviam
> desaparecer.
>
> Você, eu e conosco, milhões de venezuelanos e cubanos, partilhamos
> dessas idéias.
>
> Você partiu dos princípios cristãos que lhe inculcaram e um caráter
> rebelde; eu, das idéias de Marx e um caráter também rebelde.
>
> Há princípios éticos universalmente admitidos que são válidos tanto
> para um cristão, como para um marxista.
>
> Desse ponto de partida, as idéias revolucionárias se enriquecem
> constantemente com o estudo e a experiência.
>
> Resulta conveniente sublinhar que nossa amizade sincera e
> revolucionária surge quando você não era presidente da Venezuela.
> Nunca lhe pedi nada. Quando o movimento bolivariano obteve a vitória,
> nas eleições de 1999, o petróleo valia menos de 10 dólares o barril.
> Lembro bem disso porque você me convidou a sua tomada de posse.
>
> O seu apoio a Cuba foi espontâneo, como sempre o foi nossa cooperação
> com o irmão povo da Venezuela.
>
> Em pleno período especial, quando a URSS desabou, o império endureceu
> seu brutal bloqueio contra nosso povo. Em um determinado momento, os
> preços do combustível ficaram elevados e nossos fornecimentos se
> tornaram difíceis. Você garantiu o fornecimento comercial seguro e
> estável ao nosso país.
>
> Não podemos esquecer que, depois do golpe político contra a Revolução
> Bolivariana, em abril de 2002, e sua brilhante vitória frente ao golpe
> petroleiro a finais desse próprio ano, os preços se elevaram acima de
> 60 dólares o barril, e aí você nos ofereceu o fornecimento de
> combustível e facilidades de pagamento. Bush já era Presidente dos
> Estados Unidos e foi o autor daquelas ações ilegais e traidoras contra
> o povo da Venezuela.
>
> Lembro-me o quanto se indignou você com que ele exigisse minha saída
> do México, como condição para aterrar nesse sofrido país, onde você e
> eu participávamos em uma conferência internacional das Nações Unidas
> em que também ele devia comparecer.
>
> À Revolução Bolivariana nunca lhe perdoarão seu apoio a Cuba, quando o
> império imaginou que nosso povo, depois de quase meio século de
> resistência heróica, cairia de novo em suas mãos. Em Miami, a
> contra-revolução reclamava três dias de licença para matar
> revolucionários, logo que se instaurasse o governo de transição em
> Cuba que Bush exigia.
>
> Já decorreram dez anos de exemplar e frutuosa cooperação entre a
> Venezuela e Cuba. A ALBA nasceu nesse período. Tinha fracassado a ALCA
> --promovida pelos Estados Unidos-- mas o império está de novo à
> ofensiva.
>
> O golpe de Estado em Honduras e o estabelecimento de sete bases
> militares na Colômbia, são fatos recentes acontecidos depois da tomada
> de posse do novo Presidente dos Estados Unidos. Seu predecessor já
> tinha restabelecido a IV Frota, meio século depois de finalizada a
> última contenda mundial, e não existia nem Guerra Fria, nem a União
> Soviética. São óbvias as intenções reais do império, desta vez, sob o
> sorriso amável e o rosto afro-americano de Barack Obama.
>
> Daniel Ortega explicou ontem a forma em que o golpe em Honduras
> determinou o enfraquecimento e a conduta dos membros do Sistema da
> Integração Centro-Americana.
>
> O império mobiliza atrás de si as forças de direita da América Latina
> para golpear a Venezuela, e com ela, aos Estados da ALBA. Se
> conseguisse apoderar-se de novo dos quantiosos recursos petroleiros e
> de gás da Pátria de Bolívar, os países do Caribe anglófono e outros da
> América Central perderão as generosas condições de fornecimento que
> hoje a Venezuela revolucionária lhes oferece.
>
> Há uns dias, após o discurso pronunciado pelo presidente Barack Obama,
> na escola militar de West Point, para anunciar o envio de 30 mil
> soldados à guerra do Afeganistão, escrevi uma reflexão na qual
> qualificava de ato cínico aceitar o Prêmio Nobel da Paz quando já
> tinha adotado essa decisão.
>
> No passado 10 de dezembro, ao proferir em Oslo o discurso de
> aceitação, fez afirmações que constituem um exemplo da lógica e do
> pensamento imperialista. "...sou responsável pelo desdobramento de
> milhares de jovens para lutarem em um país distante. Alguns matarão. A
> outros os matarão.", afirmou, tentando apresentar como uma "guerra
> justa" a brutal carnificina que leva a cabo naquele distante país,
> onde a maioria dos que morrem, são povoadores indefesos das aldeias
> onde explodem as bombas lançadas por aviões não-tripulados.
>
> Depois dessas frases, pronunciadas entre as primeiras, dedica mais de
> 4.600 palavras a apresentar a chacina de civis como guerra justa.
> "Nas guerras de hoje --afirmou-- morrem muitos mais civis do que
> soldados".
>
> Ultrapassam o milhão de civis não-combatentes os que já morreram no
> Iraque e no Afeganistão e na fronteira do Paquistão.
>
> Nesse mesmo discurso elogia Nixon e Reagan, como personagens ilustres,
> sem se deter a lembrar que um deles jogou mais de um milhão de
> toneladas de bombas no Vietnã, e o outro fez explodir, por meios
> eletrônicos, o gasoduto da Sibéria, sob a aparência de um acidente.
> Foi tão forte e destruidora a explosão que os aparelhos monitores dos
> testes nucleares a registraram.
>
> O discurso pronunciado em Oslo se diferencia do de West Point, porque
> o proferido na academia militar estava mais bem elaborado e declamado.
> No discurso na capital da Noruega, o rosto do orador expressava a
> consciência da falsidade de suas palavras.
>
> O momento e as circunstâncias também não eram iguais. Oslo se localiza
> nas proximidades de Copenhague. Neste ponto, tem lugar a
> importantíssima Conferência sobre a Mudança Climática, onde sei que
> você e Evo pensam participar. Naquele lugar se trava, nestes momentos,
> a batalha política mais importante da história humana. Ali se pode
> constatar em toda sua magnitude, quanto prejuízo tem ocasionado à
> humanidade o capitalismo desenvolvido. Hoje, a humanidade deve lutar
> desesperadamente não só pela justiça, mas também pela sobrevivência da
> espécie.
>
> Acompanhei de perto a reunião da ALBA. Meus parabéns para todos.
> Desfrutei imenso ao ver tantos e tão queridos amigos elaborando idéias
> e lutando unidos. Meus parabéns para todos.
>
> Até à vitória sempre!
>
> Um forte abraço
>
>
>
> Fidel Castro Ruz
> 14 de dezembro de 2009 *

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Se não tiver conta no Google, opte por "Comentar como: Nome/URL", sendo que o campo URL não precisa ser preenchido.

Não serão tolerados ataques pessoais.