quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Manejo tenta conciliar preservação e carvão

Sertão do Araripe, região da Caatinga com unidades de conservação e polo industrial, busca produzir lenha sem afetar áreas nativas

CONPET/Divulgação
DANILO BUENO
da PrimaPagina

O desenvolvimento sustentável é um desafio para as entidades que atuam na preservação ambiental no Sertão do Araripe, uma área de Caatinga entre Piauí, Ceará e Pernambuco. Com cerca de 69 mil quilômetros quadrados, a região abriga diversas unidades de conservação que convivem com cerca de 400 grandes empresas da área de cerâmica e gesso que utilizam uma grande quantidade de carvão vegetal.

O uso intenso desse material faz com que a produção sustentável de madeira deva ser uma prioridade para as empresas da região, segundo especialistas reunidos no final de dezembro no Seminário Regional sobre Manejo Florestal Sustentável, realizado na cidade de Crato, no Ceará, em uma parceria entre Fundação Araripe, o Ministério do Meio Ambiente e o PNUD.

Os participantes observam que a dificuldade está em suprir a demanda por produtos florestais e, ao mesmo temo, manter as áreas de mata nativa. A dificuldade é maior quando envolve recursos energéticos, como a madeira, mas também está presente na atividade de extração de plantas (como a janaguba e a fava-d'anta, com importantes funções medicinais, muito procuradas pelas empresas farmacêuticas) e frutas (sobretudo babaçu e pequi).

A região é o principal polo de produção de gesso do Brasil e também conta com indústrias têxteis e cerâmicas que consomem uma grande quantidade de carvão vegetal, que é a segunda fonte de energia mais utilizada na região. De acordo com o secretário-geral da Fundação Araripe, Stephenson Ramalho, a utilização da lenha remonta à cultura do sertanejo, que recorre ao corte principalmente durante a estiagem, quando a atividade é facilitada.

O sistema de manejo florestal é apontado como uma das soluções para deter os prejuízos ao meio ambiente. Os produtores são incentivados a plantar espécies nativas nos espaços não reservados à proteção ambiental, para utilizá-las como carvão. Assim, economizam na compra de lenha e consomem os recursos de forma sustentável, sem avançar sobre as áreas protegidas. “Ele age como uma unidade de conservação, ainda que produza a madeira para uso privado”, resume Ramalho.

Os problemas relacionados à questão fundiária e a dificuldade de tramitação dos processos dentro dos órgãos ambientais são alguns dos principais entraves à implantação do sistema de manejo florestal e das possibilidades de extrativismo sustentável como um todo, segundo Ramalho. A falta de documentação de posse da terra, que é recorrente na região, muitas vezes impede as ONGs de aplicar projetos de manejo florestal.

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