domingo, 24 de janeiro de 2010

O Brasil inerte frente ao câmbio chinês

O Brasil assiste paralisado à destruição de suas cadeias produtivas pela supervalorização do real.

por ANTONIO DELFIM NETTO do blog do Nassif

NA VISITA de Obama à China, criou-se uma espécie de G2 informal (EUA e China), cujo comportamento arrogante pretende determinar a evolução do Resto do Mundo. Trata-se, sem dúvida, de duas importantes economias. Mas elas, somadas, não fazem mais do que 30,5% do PIB mundial -quando avaliado pelas taxas de câmbio correntes- ou 31,7%, quando avaliadas pelo duvidoso conceito de paridade de poder de compra (2008). As exportações dos dois países representaram, em 2008, 16,9% das exportações de bens e serviços mundiais.

A conversa de Obama com Hu Jintao no que dizia aos interesses recíprocos foi pouco mais do que um diálogo de surdos: os EUA recusaram à China a sua pretensão de ser reconhecida como “economia de mercado”, e a China fingiu que não ouviu a súplica americana para que deixasse o yuan flutuar livremente…

Em relação ao que parece que será o maior problema do século 21 -o aquecimento global no que respeita aos efeitos produzidos pela atividade humana-, os dois continuam tendo um oportunismo cínico. A China afirma que fará tudo, desde que isso não atrapalhe o crescimento do PIB de 9% ao ano, que o PC Chinês considera imprescindível para manter a ordem social sob controle.

Os EUA comprometeram-se com uma redução da emissão de CO2 (ainda não aprovada no Senado) que é o resultado secundário do seu objetivo principal: a reconquista da autonomia energética perdida no século 20.

O problema do câmbio chinês não é apenas americano. Representa uma ameaça para o equilíbrio da economia mundial. Cada um dos seus parceiros individualmente teme a China: a perda do seu mercado e a vantagem da importação barata. É evidente que a Organização Mundial do Comércio (OMC) finge estar surda e muda, intimidada pelas ameaças chinesas. Parece confirmar o velho ditado chinês (anterior à admissão da China no organismo) de que “a OMC não existe sem a China”…

O Brasil assiste paralisado à destruição de suas cadeias produtivas pela supervalorização do real. A Comunidade Econômica Europeia vê a China transformar-se no primeiro exportador mundial (ultrapassando a Alemanha) com o euro valorizado. O Japão vê a sua economia definhar com o iene supervalorizado. Alguém pode acreditar que isso seja resultado da superprodutividade chinesa?

É hora de a OMC assumir a sua responsabilidade pela boa organização do comércio internacional.
Até quando isso durará antes que as forças políticas daqueles países exijam a volta do protecionismo que incomodará a China, ameaçará a economia mundial e liquidará a OMC?

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