quarta-feira, 7 de julho de 2010

Vice de Marina tem 72 vezes mais que os outros

Patrimônio de todos os demais candidatos a presidente e vice na disputa pela sucessão de Lula não chega nem a 1% dos quase R$ 1,2 bilhão declarados pelo empresário Guilherme Leal

do Congresso em Foco

O empresário Guilherme Leal, que concorre a vice-presidente na chapa de Marina Silva (PV), tem sozinho um patrimônio 72 vezes superior à soma declarada pelos demais 17 candidatos à presidência e vice-presidência da República. Dono do grupo Natura, de cosméticos, Guilherme declarou à Justiça eleitoral R$ 1.197.000.000 em bens, que vão desde participação societária a aplicação em fundos de investimentos, passando por imóveis em áreas nobres de São Paulo. Os nove candidatos a presidente e seus respectivos vices somam um patrimônio de R$ 16.490.188,29. Ou seja, todos os demais não chegam a ter nem 1% do que Leal declarou à Justiça Eleitoral. Em números exatos, seus bens correspondem a 0,83% do que possui Leal. Com relação apenas ao que declarou a senadora Marina Silva, cabeça na chapa do PV, os bens do empresário do ramo de cosméticos são 8 mil vezes superiores aos R$ 149.264,38 declarados por ela.

Na verdade, será uma eleição disputada por vices mais ricos que os candidatos a presidente. Assim como Marina, os dois candidatos que disputam a liderança nas pesquisas eleitorais também informaram patrimônio inferior ao de seus vices.

Com R$ 1.420.000,00, Serra tem praticamente o mesmo patrimônio declarado pelo deputado Índio da Costa (DEM-RJ), que
acumula R$ 1.448.230,18. A diferença patrimonial é maior entre Dilma e seu vice, o presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP): R$ 1.060.000,00 da petista ante R$ 6.052.779,19 do peemedebista.

Adversários nas urnas, os dois deputados também têm em comum o fato de terem conseguido uma expressiva evolução patrimonial nos últimos quatro anos. O paulista quase triplicou seu patrimônio desde as eleições de 2006. Mesmo com valores um pouco mais modestos, o fluminense viu o valor de seus bens quadruplicar no período.

Há quatro anos, quando chegou à Câmara para exercer o primeiro mandato, Índio tinha um patrimônio declarado de R$ 315.730,49. No documento entregue ontem (5) à Justiça eleitoral, ele informou ter bens e aplicações estimados em R$ 1.448.230,18. Uma evolução nominal de 358%.

Considerando-se a inflação de 20,83% acumulada no período pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a evolução patrimonial do deputado foi de 279%. Entre outros bens adquiridos por Índio no período, estão imóveis, um barco e um ultraleve. Uma aplicação de R$ 401.724 é o maior montante entre os 12 itens assinalados por ele na nova declaração.

Apartamentos e ações

“Vendi um apartamento e ações com ganhos de capital. Também houve aumento de capital da minha empresa com o uso de lucros acumulados e não distribuídos”, justificou o deputado, em entrevista ao jornal O Globo. “Tenho a pagar um empréstimo de R$ 370 mil para fazer um investimento”, acrescentou.

Quando se candidatou ao atual mandato na Câmara, em 2006, Temer informou ao TSE ter bens avaliados em R$ 2.293.645,53. Pelo documento entregue nessa segunda-feira, seu patrimônio subiu para R$ 6.052.779,19. Um crescimento patrimonial de 164%, sem levar em conta a inflação. Considerando-se a inflação acumulada no período, conforme o IPCA, o ganho patrimonial do deputado foi de 118%.

A entrega da declaração de bens é uma das exigências da Justiça eleitoral para a concessão do registro de candidatura. A relação dos bens descritos por Temer saltou de 12 itens, há quatro anos, para 33, em 2010. Entre as novas aquisições do deputado, está uma participação societária avaliada em R$ 2,2 milhões na compra de imóveis localizados no Itaim-Bibi, bairro nobre da capital paulista. O valor dessa participação societária é praticamente o mesmo de todo o patrimônio declarado por ele há quatro anos. O deputado também informou ao TSE uma diversificada aplicação financeira, que inclui, por exemplo, R$ 0,01 em um fundo de ações e R$ 1 em fundo de capitalização em outro banco.

Audi de R$ 282 mil

A relação dos bens do candidato a vice-presidente traz outra curiosidade. Temer informou possuir um veículo Audi A6, 3.0, 2003, que ele avaliou em R$ 282 mil. Esse valor, na verdade, corresponde ao preço de mercado desse mesmo carro ano 2010, zero quilômetro, numa concessionária da Audi em Brasília, conforme levantou o Congresso em Foco. Na declaração anterior, entregue há quatro anos, Temer informou à Justiça eleitoral que possuía esse mesmo veículo, cotado a R$ 219 mil na época. Ou seja, de lá pra cá, a julgar pela declaração, houve uma valorização de 28% no preço do carro.

A situação chama a atenção porque automóvel é um tipo de bem cujo valor só deprecia com o tempo. Na verdade, a realidade no mercado para um automóvel do mesmo tipo é bem diferente. Segundo a tabela da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), adotada como referência pelas principais revistas especializadas do país. Um Audi A 6, 3.0, 2003 custa, em média, R$ 54 mil. Foi por essa quantia que a concessionária da Audi no Distrito Federal procurada pelo site vendeu um veículo com as mesmas características na última semana. Em outras palavras, o valor declarado é cinco vezes superior ao preço de mercado.

Por meio de sua assessoria, Temer explicou que, na verdade, repetiu este ano o mesmo valor declarado para o carro em 2006. O acréscimo deve-se, segundo Temer, ao fato de ter feito a blindagem do carro no meio desse período. O preço da blindagem seria o valor a maior declarado no automóvel.

Também foram incluídas na nova relação de bens, 9.800 cotas da empresa Temer Advogados Associados. Uma participação avaliada em R$ 9.800. Com relação aos dados gerais da variação patrimonial, a assessoria de Temer disse que os contadores do deputado ainda estavam avaliando os dados e fazendo os cálculos antes de dar novas declarações.

Entre os candidatos a presidente, não é possível verificar a evolução patrimonial de todos, pois alguns deles, como a própria Marina e a ex-ministra Dilma Rousseff, não disputaram as eleições passadas.

Candidato a governador em São Paulo, Serra declarou à Justiça eleitoral um patrimônio de R$ 872.893,62 em 2006. Agora, informou ter R$ 1.420.000 em seu nome. Aplicando-se a inflação acumulada no período, o tucano teve uma evolução de 33,5%.

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