terça-feira, 30 de agosto de 2011

TV Globo refaz a Expedição Xingu, dos irmãos Villas Bôas, patrocinada pela estatal Ancine. Alguém pode explicar o motivo, por gentileza?

por Carlos Newton

Oportunamente, a TV Globo vem nos lembrar que, quase 70 anos atrás, os irmãos Villas Bôas – Orlando, Claudio e Leonardo – desbravaram a região centro-oeste, abrindo 1.500 quilômetros de picadas pelo cerrado para descobrir um Brasil até então desconhecido.

“Os três indigenistas compuseram as vidas mais extraordinárias e belas de que tenho noticia. Pequenos burgueses, condenados a vidinhas burocráticas medíocre, saltaram delas para aventuras tão ousadas e generosas que seriam impensáveis, se eles não as tivessem vivido”, declarou a respeito o antropólogo Darcy Ribeiro.

A TV Globo explica que, durante a segunda guerra mundial surgiu aqui o Brasil um temor de que estrangeiros pudessem invadir as nossas terras, principalmente algumas que eram quase desertas. Por isso, em 1943, o presidente Getúlio Vargas criou a expedição “Roncador Xingu”. A missão era desbravar e depois ocupar a região central do Brasil.

Os irmãos Villas Bôas abandonaram o conforto da cidade para embarcar numa aventura heróica e junto com outros expedicionários abriram perto de 1.500 quilômetrosde caminhos pelo mar. Construíram 19 pistas de pouso para aviões militares, percorreram mais de mil quilômetros de rios, fundaram 43 vilas e cidades e fizeram contato com pelo menos 5 mil índios. Foram de Barra do Garças, no Mato Grosso, até Cachoeira do Creputiá, no sul Pará.

O Fantástico está refazendo boa parte deste trajeto, até o Parque Indígena do Xingu, que foi o maior legado dos Villas Bôas. Hoje será exibida a segunda reportagem de série. Comandados pelo repórter Ricardo Alvarez, oito universitários brasileiros está percorrendo o caminho dos irmãos Villas Bôas. É uma excelente ideia, não há dúvida.

Mas o conteúdo dessa “reportagem” não justifica mesmo o patrocínio da estatal Ancine, que deveria estar usando esses recursos para financiar documentários da nova geração brasileira de cineastas. A “Expedição Xingu” está mais para uma versão daqueles realities shows da Globo.

A linha que separa a linguagem dos documentários e a de uma matéria jornalística é tênue e pode até ser confundida. No entanto, esse formato de uma matéria do Fantástico não tem como classificar essa reportagem de documentário. E se seguirmos essa linha de pensamento todos os programas do Globo Repórter na Amazônia podem passar a merecer patrocínio da Ancine.

Enquanto tantos cineastas lutam para ter algum patrocínio e, se conseguem, lutam novamente para conseguir exibir a produção, a TV Globo obtém facilmente recursos de uma estatal para uma série de reportagens do Fantástico no horário nobre de domingo. Isso é absurdo. A TV Globo não precisa disso.

2 comentários:

  1. Anônimo31.8.11

    motivo? Belo Monte!

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  2. É para explicar mesmo? Então, vamos lá.

    Não saiu um centavo dos parcos recursos da Ancine (que, aliás, não é uma estatal: é uma agência reguladora) para a produção da série. O financiamento foi por meio de recursos do Artigo 3º-A da Lei 8685/93 (Lei do Audiovisual). Para quem quiser consultar:
    http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8685.htm

    Funciona assim:
    1- A Globo tem imposto a pagar.
    2- A Globo pega o imposto e, em vez de pagar, usa o dinheiro para COMPRAR uma obra produzida por uma PRODUTORA INDEPENDENTE (no caso, a Ioiô Filmes).
    3- A obra, tendo sido adquirida por uma rede de TV, é veiculada e assistida, em vez de ficar mofando numa gaveta.

    É dinheiro público, sim. Dinheiro público que o Congresso Nacional, eleito democraticamente, julgou que deveria ser aplicado dessa forma – e por isso estabeleceu o mecanismo em lei.

    O papel da Ancine é apenas o de autorizar a utilização do mecanismo e verificar se as normas estão sendo cumpridas, inclusive com prestação de contas dos recursos utilizados.

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