sexta-feira, 7 de outubro de 2011

EUA e China: ascensão e queda

por Hélio Duque

Foi substituído, com novas roupagens e estratégias que teve a guerra fria no epicentro, pelos Estados Unidos. A América Latina, o sudeste asiático e o continente africano conheceram essa realidade, através ditaduras ou alianças associadas às elites dessas regiões.

A mídia mundial divulgou à exaustão a monstruosidade do ataque as torres do Word Trade Center, ao completar dez anos. Pouca ênfase foi dada ao fato de 11 de setembro de 2001, ser o fator determinativo para a precipitação da decadência americana. A resposta do desastrado governo George W. Bush foi levar o país a duas guerras, invadindo o Afeganistão e o Iraque. Cálculos do projeto “custo da guerra” da Universidade Brown, estimam que o gasto dessa aventura já custou US$ 4 trilhões, até agora. Além de milhares de vidas ceifadas de americanos e nativos daqueles países. O custo desses conflitos serviu para alimentar a erosão da economia norte-americana que passou a incorrer em triplo déficit (público, militar e nas suas contas externas). A crise do sub-prime de 2008 foi conseqüência. E agora em 2001, o governo Barack Obama se defronta com o cenário de estagnação, desemprego e carente de política fiscal e monetária que ofereça resposta consistente para enfrentar a verdadeira herança maldita que recebeu.

Dez anos depois os efeitos do 11 de setembro de 2001, atingiram mortalmente o império. Se pelo lado externo a grande nação americana coleciona insucessos recorrentes, no seu front interno uma sociedade democrática forte onde o amálgama de valores, conhecimentos, bens culturais é notável, a situação não é diferente. Recente pesquisa da Moody’s Analytics constatou que os 5% de americanos de mais elevada renda são responsáveis por 37% de todo o consumo nacional. Atingindo a sua classe média em processo acelerado de empobrecimento fortalecendo uma sociedade desigual com forte concentração de renda. A miséria atinge 46 milhões de norte-americanos que vivem abaixo da linha de pobreza.

Equação elementar: os EUA ao longo da sua história sempre tiveram na sua classe média respeitável suporte para a prosperidade. Quando vê sua renda erodir, travando o seu poder de compra refletindo diretamente no baixo consumo, a crise torna-se inevitável. Entre 1947 e 1977, a chamada era da “grande prosperidade” respondeu pelo virtuosismo que aliava crescimento econômico e grande expansão da classe média consumindo bens e serviços que gerava empregos em todos os setores com os salários sempre melhores. A forte demanda era estimulada pela produtividade e a expansão econômica. O cenário no presente é a antítese, gerada a partir da década de 80, governo Ronald Reagan. O neoliberalismo do Deus mercado desregulamentando, privatizando, eliminando investimentos na infraestrutura, limitando as redes de proteção social esgarçaria no futuro a sua dinâmica economia.

No “New York Times”, o professor da Universidade de Berkeley, Robert Reich, ex-secretário do Trabalho do governo Bill Clinton, constatou: “Somente 27% dos desempregados estão cobertos pelo seguro-desemprego. O governo permitiu que empresas destruíssem sindicatos e ameaçassem empregados que tentaram se organizar. Menos de 8% dos trabalhadores no setor privado são sindicalizados”. Diz mais: “A economia não pode sair da estagnação atual sem uma estratégia para reconstruir o poder de compra da vasta classe média americana. Os gastos dos 5% mais ricos não levarão a um ciclo virtuoso de mais empregos e melhoria dos padrões de vida.”

Simbolicamente, em 11 de setembro de 2001, não foram apenas as torres do WTC que caíram. O governo Bush ao patrocinar as duas guerras, em resposta aos terroristas, caiu na armadilha de Bin Laden. Levando os EUA a ter o seu poder imperial reduzido no mundo, agregado ao enfraquecimento interno da sua economia. Realidade inimaginável há poucos anos.

Hélio Duque é doutor em Ciências, área econômica, pela Universidade Estadual Paulista (Unesp). Foi Deputado Federal (1978-1991). É autor de vários livros sobre a economia brasileira.

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