segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

A CABEÇA DE BATTISTI

Em junho de 1982, foi encontrado estrangulado em Londres, embaixo da “Blackfriars Bridge” (“a Ponte dos Irmãos Negros”), o banqueiro italiano Roberto Calvi, presidente do Banco Ambrosiano, que acabava de quebrar, e tinha como diretores o cardeal Marcinkus, o conde Umberto Ortolani e o chefe da P-2 italiana (maçonaria), Licio Gelli.

Nos dias seguintes, na Itália e na Inglaterra, apareceram assassinados varios outros ligados a Calvi. Não é só na Santo André do ABC petista que se “limpa a área”. No meio da confusão estava o conde papal Umberto Ortolani, um dos quatro “Cavaleiros do Apocalipse” italiano.

O CONDE
Quando, a partir de 90, a “Operação Mãos Limpas” chegou perto deles, o conde Ortolani, banqueiro do Vaticano e diretor do “Corriere de La Sera”, depois de mais um magnífico almoço com Brunello di Montalcino, mostrava-me Roma lá de cima de sua mansão no Gianiccolo e me dizia:
- Isso não vai acabar bem.
Depende o que é acabar bem. Para ele e seus aliados acabou péssimo. Mas para a Itália acabou melhor do que se imaginava. O Ministério Publico e a Justiça italiana enfrentaram a criminosa aliança,que vinha desde 1945, no fim da guerra, entre a Democracia Cristã e seus aliados e a Máfia.

Houve centenas de prisões, suicídios. Nunca antes a Máfia tinha sido tão encurralada e atingida. Responderam com atentados e bombas, detonando carros e assassinando procuradores, juízes e a esquerda radical.

“FORTES PODERES”
Os grandes partidos (a Democracia Cristã, o Socialista e o Liberal) explodiram. O Partido Comunista, conivente, desintegrou-se. E meu velho amigo conde, condenado a 19 anos, morreu em 2002, aos 90 anos.

O banqueiro, o maçon, o cardeal e o conde eram uma historia exemplar do satânico poder dos banqueiros, mesmo quando, como ele, um banqueiro de Deus, vice-presidente do banco Ambrosiano do cardeal Marcinkus que fugiu para os Estados Unidos e nunca saiu de lá.

Os que criticaram, sem conhecer os fatos, o ministro Tarso Genro, por ter dado asilo político ao italiano Cesare Battisti, deviam ler um livro imperdível : “Poteri Forti” (“Fortes Poderes, o Escândalo do Banco Ambrosiano”), do jornalista italiano Ferruccio Pinotti, abrindo as entranhas do poder de corrupção do sistema financeiro, de braços dados com governos, partidos, empresários, Maçonaria e Mafia.

Contam os jornais que o presidente Lula, ainda esta semana, vai assinar o asilo político de Cesari Battisti. Será um ato de dever e de justiça.

"MÃOS LIMPAS"
A “Operação Mãos Limpas” não teria havido se um punhado de bravos jovens, valentes e alucinados, das “Brigadas Vermelhas” e dos “Proletarios Armados pelo Comunismo” (PAC), não tivesse enfrentado o Estado mafioso, naquela época totalmente comandado pela Máfia.

O governo, desmoralizado, usava a Máfia para elimina-los. Eles reagiam, houve mortos de lado a lado e prisões dos principais lideres intelectuais, como o filósofo De Negri (asilado na França) e o romancista Cesare Battisti, tambem exilado na França e agora preso no Brasil.

Eu estava lá, vi tudo, escrevi muito. Quando cheguei a Roma em 90 como Adido Cultural, a luta ainda continuava, sangrenta, devastadora. Foram eles, os jovens rebeldes das décadas de 70 e 80, que começaram a salvar a Italia. Se não se tiivessem levantado de armas na mão, a aliança Democracia Cristã, Partido Socialista, Liberais e Máfia estaria lá até hoje.

BERLUSCONI
Berlusconi é o feto podre que restou e um dia será extirpado. O ex-presidente da França, Jacques Chirac, corrupto com atestado publico, a pedido de Berlusconi retirou o asílo politico de Battisti e o Brasil lhe deu. Tarso Genro estava certo. O problema foi, era, continua político.

O fascista Berlusconi (primeiro-ministro) é apoiado pelos desfrutaveis ex-comunistas Giorgio Napolitano e Massimo d`Alema, que se esconderam quando o juiz Falcone foi assassinado e o procurador Pietro, hoje no Parlamento, comandou a “Operação Mãos Limpas”.

DILMA
Os acusadores de Battisti não têm autoridade nenhuma. Por que não devolveram Caciolla, o batedor de carteira do Banco Central, quando o Brasil pediu? As Salomés de lá e de cá queriam entregar à Máfia a cabeça de Battisti, que não conheço, nunca vi e nunca li um livro dele.

Mas, por acompanhar, de perto, as lutas do ultimo meio século da Itália, posso assegurar que a única diferença entre Battisti e Dilma é que Dilma chegou ao poder e Battisti por enquanto só chegou às livrarias.

A luta armada que os dois fizeram era a mesma. As organizações a que pertenceram tinham os mesmos objetivos e projetos. O que os diferenciou é que Dilma nunca participou de ação armada e Battisti sim. Se tivessem surgido as mesmas situações concretas que Battisti enfrentou também Dilma teria recorrido às armas que ambos usavam, aqui e lá, e não eram para matar passarinho.

LULA
Lula esperava a opinião da Advocacia Geral da União. Agora, que a tem, deve assinar a decisão nos próximos diias. O poder é o exercicio da lei.

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