quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Avanço econômico ameaça mangaba em SE

Estudo aponta que expansão de turismo, cana, eucalipto e cultivo de camarão afeta 2.500 famílias em Sergipe, maior produtor da fruta

Embrapa/Divulgação
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MARCELO OSAKABE
da PrimaPagina

A agricultura, o cultivo de camarão e o turismo estão prejudicando a coleta de mangaba no Sergipe — maior produtor do Brasil — e, com isso, afetando cerca de 2.500 famílias que trabalham com a extração da fruta. Essa é uma das conclusões de um estudo realizado pela EMBRAPA, com o apoio do PNUD. Segundo um dos pesquisadores envolvidos com o trabalho, Josué Silva Júnior, da EMBRAPA Tabuleiros Costeiros, essas atividades econômicas estão também destruindo áreas de vegetação nativa.

"São muito poucas as áreas de vegetação nativa no estado, e a mangabeira só existe nessas áreas ou em áreas devastadas, mas que estão em recuperação", afirma. O avanço ocorre nos tabuleiros costeiros (área plana, próxima à costa, em que predomina Mata Atlântica) e na restinga (próxima à praia, com solo arenoso).

O estudo, chamado “Mapa do Extrativismo de Mangaba no Estado de Sergipe”, aponta que na restinga — cuja vegetação é considerada área de preservação permanente pelo Código Florestal — os maiores problemas são o turismo, a especulação imobiliária e as fazendas de camarão. No caso dos tabuleiros, a ameaça é a agricultura, que desde a década de 60, quando se descobriu que a correção do solo e o uso intensivo de fertilizantes tornavam aquela área plana excelente para o plantio, começou a ser utilizada para cana-de-açúcar, eucalipto, coqueiros ou mesmo pastagens.

Silva Júnior estima que, nos últimos três anos, foram desmatados 450 hectares em razão do cultivo de cana-de-açúcar, eucalipto, produção de camarão e avanço imobiliário — 1% da área total de coleta de mangaba.

O foco inicial do levantamento da EMBRAPA era a conservação das áreas naturais de ocorrência da mangabeira. Porém, os pesquisadores perceberam que há uma relação direta entre as áreas que as famílias usavam para a coleta da mangaba e as áreas de cobertura original. "Então nós decidimos mudar de estratégia. Começamos a pensar em meios para fazê-las conservar essas áreas", diz o agrônomo.

Conflitos

Os 38.921 hectares onde as catadoras de mangaba retiram a fruta são manchas esparsas no Mapa do Extrativismo de Mangaba no Estado de Sergipe . Nele, estão demarcadas áreas em que se pode coletar mangaba, outras aonde o acesso é proibido, áreas em que as catadoras precisam pagar um “pedágio” e outras onde elas entram sem permissão.

O levantamento detectou que está ficando mais tensa a relação entre catadoras de mangaba e donos de terra onde ficam as mangabeiras. A crescente importância econômica da fruta, cuja produção nacional vem basicamente do extrativismo, aliada à criação do Movimento das Catadoras de Mangaba, que vem reivindicando acesso irrestrito às áreas de extração, tem feito com que os fazendeiros tomem atitudes que vão desde a proibição do acesso, para que eles mesmo colham a fruta.

Para contornar a situação, a EMBRAPA tem proposto a desapropriação de áreas para fins de reforma agrária ou criação de reservas extrativistas (resex). "Isso [a desapropriação] ainda está num estágio inicial. Estamos tentando organizar as catadoras de forma que elas possam reivindicar ao governo e aos órgãos responsáveis a conservação dos recursos ambientais ", afirma Silva Júnior.

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