segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Ilhas Malvinas, colonialismo e soberania

Por Gilson Caroni Filho - do Rio de Janeiro

A política internacional costuma ser uma estranha combinação de
dramaticidade e de tédio, deslocando-se de uma excitante promessa de
mudança para uma triste perspectiva de monotonia. De forma recorrente,
trafega-se de conhecidas petições sobre “sinceros desejos de uma nova
ordem mundial sustentável" para reiterações de hegemonismos e Destinos
Manifestos. Enquanto analistas buscam fornecer conceitos atualizados
de Estado e soberania, a realidade continua sendo moldada pelo antigo
conceito de imperialismo: aquele que era definido como expressão de
uma fase monopolista do capital.

A decisão do governo britânico de explorar petróleo e gás nas Ilhas
Malvinas, reavivando tensões entre a Argentina e o Reino Unido, 28
anos depois da guerra travada entre os dois países por esse
arquipélago do Atlântico Sul, reafirma o léxico colonialista que faz
tábua rasa das resoluções da ONU. A conhecida virulência do antigo
império, sempre amparado no apoio dos Estados Unidos, não afronta
apenas o povo argentino. Para além das fortes evidências de uma rica
província de hidrocarbonetos na região, o que está em xeque é a
soberania da América Latina. Elaborar estratégia para suas riquezas
energéticas, como o pré-sal brasileiro, é imperativo e inadiável.

Como denunciou a presidente Cristina Kirchner, “não é aceitável que as
regras do mundo não sejam iguais para todos. As Nações Unidas podem
tomar medidas, inclusive de força, contra países que não cumprem
certas normas, mas quando são os poderosos que não as cumprem, nada
acontece. A permanência de um enclave colonial não tem sentido".
Afirmar que tudo não passa de “um assunto de política interna tanto
para Cristina quanto para Gordon Brown" é jogar cortina de fumaça
sobre questões mais profundas. Trata-se de, agindo com má-fé,
estabelecer paralelos equivocados entre o passado e o presente.

Se, em 1982, o desespero foi o conselheiro que inspirou a ditadura
militar a um salto no vazio, isto é, a ocupação das Malvinas, o que
hoje move o governo argentino é a preservação de um espaço político
soberano. Não há um general Galtieri tentando abrir um caminho para
escapar do beco sem saída, mas uma presidente eleita reivindicando
legítimos direitos nacionais. Um país renascido diante da recuperação
de suas liberdades e consciente da importância da autodeterminação.

Não há solução de "meio-termo" quando a ofensiva imperialista não
esconde mais seus objetivos. O golpe em Honduras, a ofensiva dos
grandes proprietários na Argentina, a ação desestabilizadora da
direita paraguaia, e as bases militares na Colômbia e no Panamá são
fatos por demais suficientes para afastar a perigosa inércia
analítica. Aquela que ignora, entre outras coisas, a crescente
militarização das relações dos Estados Unidos com a América Latina.

As Ilhas Malvinas e suas adjacências são argentinas. Devem ser
descolonizadas e reintegradas ao país. Têm que ser liberadas da
ocupação estrangeira que se propõe a explorar suas riquezas e,
provavelmente, instalar bases militares apontando para toda a América
Latina e seu projeto de integração regional.

A luta deve prosseguir no plano político, diplomático, e em todos os
terrenos apropriados, até a definitiva recuperação do arquipélago. È
preciso afrontar todas as responsabilidades exigidas para o
cumprimento de um programa de ação democrática e antiimperialista.

Não nos iludamos. Os piratas ingleses fazem parte de uma missão
precursora no Atlântico Sul. A gravidade da situação obriga a
coordenação no esforço de todos os partidos democráticos e populares
para uma ação em conjunto com as correntes militares dispostas a não
abdicar na luta contra o colonialismo.

Gilson Caroni Filho é professor de Sociologia das Faculdades
Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro, colunista da Carta
Maior e colaborador do Correio do Brasil e do Jornal do Brasil

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