quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Remédio para Chagas será testado em 2010

Novo medicamento é visto como uma das maiores descobertas contra a doença em 40 anos; teste em humanos poderá ser feito no Brasil

Prefeitura de Ibiporã/Divulgação
MARCELO OSAKABE
da PrimaPagina

Um novo medicamento para o tratamento da doença de Chagas começará a ser testado em seres humanos a partir deste ano. Chamada Ravuconazol, a droga até agora mostrou bastante eficácia em impedir a multiplicação e invasão das células pelo protozoário Trypanosoma cruzi, causador da enfermidade.

Segundo Tânia Araújo Jorge, pesquisadora e diretora do Instituto Oswaldo Cruz, esta é uma das novidades mais promissoras no tratamento contra a doença, que mata cerca de 11 mil pessoas por ano segundo a OMS, mais do que a malária. No Brasil, foram 5.023 mortes em 2008, de acordo com dados preliminares do Ministério da Saúde — mais que malária e tuberculose, por exemplo. “De todos os medicamentos em fase pré-clinicas, esse é um dos melhores", afirma Tânia.

O motivo do otimismo está no fato de o Ravuconazol ter se mostrado eficaz no segundo estágio da doença, a chamada fase crônica. Os outros dois medicamentos existentes, descobertos há mais de 30 anos, não são muito eficientes nesse estágio, sendo mais aconselhados para a primeira fase da doença. O problema é que apenas 1% das pessoas apresentam sintomas na primeira fase, o que dificulta o tratamento. Além disso, a nova droga mostrou ser efetiva contra todas as cepas do parasita —ao contrário dos outros —, além de ser bem menos invasivo ao organismo humano. Atualmente, só há um medicamento que age na fase crônica, e ele causa muitos efeitos colaterais, como enjoo, alergia e problemas na medula óssea.

O Ravuconazol é um medicamento desenvolvido pela farmacêutica Eisai. A indústria japonesa fez uma parceria com a DNDi (Iniciativa Medicamentos para Doenças Negligenciadas, na sigla em inglês) e cedeu para a entidade o direito de conduzir testes em seres humanos. Segundo o coordenador de comunicação da DNDi no Brasil, Flávio Guilherme Pontes, a Iniciativa está contatando centros de pesquisas nos 21 países da América Latina onde a doença é endêmica para começar os testes. A expectativa é de que até o meio do ano eles já tenham começado; há possibilidade de que o Instituto Oswaldo Cruz participe dos testes.

"Os testes costumam durar cerca de dois anos. Não se tem uma data certa para finalização dos testes, mas acredita-se que até 2014 o medicamento já esteja disponível para uso para todos os países endêmicos", diz. O remédio então deverá ser vendido a preço de custo para governos e ONGs que trabalham com a doença.

A DNDi é uma iniciativa de pesquisa e desenvolvimento de medicamentos fundada em 2003, envolvendo sete entidades: Fundação Oswaldo Cruz do Brasil, Conselho Indiano de Pesquisa Médica, Instituto de Pesquisa Médica do Quênia, Ministério da Saúde da Malásia, Instituto Pasteur da França, Médicos sem Fronteiras (MSF) e Programa Especial para Pesquisa e Treinamento em Doenças Tropicais (TDR), da ONU.

A doença de Chagas, assim como a malária e a leishmaniose, é considerada pela organização como uma doença negligenciada pelo fato de não ter tratamento adequado e estar presente quase que exclusivamente em países pobres. No entanto, esse aspecto está mudando. Com a migração, outros países estão registrando casos, como Japão, Espanha e Estados Unidos.

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