quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

'Iniquidade menor não freia crise no Brasil'

Pesquisador do IPEA afirma que, apesar da redução da pobreza e da desigualdade, economia ainda é sustentada por 30% da população

Agência Brasil/Fábio Pozzebom
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da PrimaPagina

Apesar da redução da pobreza nos últimos anos, a economia brasileira ainda é sustentada pelo consumo de uma pequena parcela da população, afirma o economista Sergei Dillon Soares, do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). Em entrevista para um boletim do CIP-CI (Centro Internacional de Políticas para o Crescimento Inclusivo), ele defende que a melhoria da desigualdade de renda aumentou o peso dos mais pobres no mercado, mas não a ponto de blindar o Brasil contra crises econômicas — esse processo ajudou apenas “um pouco” a diminuir os efeitos da recessão de 2009, por exemplo.

“O que podemos dizer é que, para além das muito prudentes políticas macroeconômicas que foram seguidas no passado recente, e todo o resto que foi feito corretamente — e o Brasil fez muitas coisas corretamente — talvez a melhoria na desigualdade ajudou um pouco, foi um fator adicional, mas certamente não o principal”, diz Soares.

A entrevista ao centro, um órgão do PNUD em parceria com o governo brasileiro, toma como base um artigo do pesquisador sobre a redução no Brasil do Índice de Gini — que mede a desigualdade de renda no trabalho. Ele comenta que há fortes indícios de que um terço dessa redução deveu-se a políticas de proteção social e um terço a melhorias na educação — e que ainda não há análises consolidadas sobre o terço restante.

A iniquidade tem caído num “bom ritmo”, avalia Soares, mas “temos de mantê-lo durante muitas décadas”. “Se você olhar para fora da janela, você ainda verá como estamos desiguais”, afirma. “Não obstante as recentes melhorias, os pobres ainda são muito pobres”, observa.

Quase toda a renda brasileira permanece concentrada nos 20% ou 30% mais ricos, salienta o economista. O rendimento dos pobres “tem melhorado muito”, mas eles “são ainda muito pobres e não estão suficientemente ricos para sustentar uma economia com o seu consumo”. “Nós realmente ainda não chegamos lá, estamos longe disso”.

O pesquisador do IPEA lembra que países de alto desenvolvimento humano, como Dinamarca, Alemanha e França, demoraram “muitas décadas” para atingir baixos níveis de desigualdade. Hoje, porém, os 50% mais pobres desses países, e mesmo dos Estados Unidos, que é a mais desigual das nações desenvolvidas, são importantes para a atividade econômica.

Para o Brasil manter o ritmo de redução da desigualdade, afirma Soares, os programas de transferência de renda terão papel importante, mas não tanto quanto a educação. Ele ainda cita a necessidade de mudanças tributárias e reforma agrária. “Há muitas coisas que precisam ser feitas antes de sermos um país com baixa desigualdade. Temos ainda um longo caminho a percorrer; nós estamos apenas começando a viagem”.

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