domingo, 27 de fevereiro de 2011

Frei Betto: Nunca é tarde para amar

Há 36 anos, eu morava em Vitória. Havia ali uma comunidade monástica ecumênica, que congrega protestantes e católicos. O mais jovem, Henri, tinha 24 anos. Como quase todo europeu que pisa pela primeira vez em nosso país, estava fascinado com o Brasil. Levei-o a Minas e apresentei-o a amigos, entre os quais Cláudia, 34 anos, recém-divorciada, mãe de um menino.

Henri ficou tocado por ela. Chegou mesmo a se declarar. A sedução, entretanto, não foi recíproca. Cláudia considerou-o um homem inteligente, bonito, mas não quis ver o jovem monge largar o hábito para iniciar um relacionamento após um encontro fortuito.

Meses depois, Henri retornou à França. Durante certo período trocaram cartas. Tempos depois Henri abandonou a vida monástica, casou-se com uma asiática, teve dois filhos, separou-se. Cláudia se empregou numa grande empreiteira brasileira com obras na África.

Ano passado — 36 anos depois — Cláudia, agora com 68 anos e um neto, navegava no Facebook quando seu nome foi identificado. “É você mesmo?”, indagou Henri do outro lado do mundo. Era. O contato entre os dois foi reatado e explodiu uma paixão recíproca.

Perguntei a Cláudia se está apaixonada. Deu um largo sorriso e respondeu: “Estou amando o amor”.

Tenho uma amiga alemã de 80 anos, viúva, mãe de quatro filhos espalhados pelo mundo. Há dois anos ela ligou para a filha que vive em Frankfurt avisando que iria visitá-la. A moça se desculpou por não poder ir ao aeroporto e disse que um vizinho, advogado de 84 anos, se oferecera para fazê-lo. Sete meses depois, casaram-se.

Um vizinho de minha mãe fez 100 anos em dezembro, com direito a baile e valsa com a namorada de 82.

A vida ensina: o coração não tem idade.

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