domingo, 27 de fevereiro de 2011

O corredor de segurança do México à Colômbia avança

Greg Grandin

Em janeiro do ano passado, escrevi um artigo para The Nation sobre a atitude de Washington de integrar o México, a América Central e a Colômbia em um "corredor de segurança". Chamei a iniciativa de "resto de Doutrina Monroe", uma mistura explosiva de militarismo e economia neoliberal. Militarmente, diversos tratados bilaterais e regionais estão fundindo os sistemas militares, de inteligência e judiciais da região em uma infraestrutura de contra-insurgência unificada e supranacional.

Economicamente, houve uma intensificação da extração de recursos social e ambientalmente nociva - minas, plantações para biocombustíveis, represas para hidrelétricas; juntando tudo, há empréstimos e outros financiamentos do Banco Mundial, FMI, ONU e Banco de Desenvolvimento Interamericano, capitalizando projetos destinados a sincronizar as redes de estradas, comunicações e energia da região, juntando os tratados de livre comércio norte-americano e centro-americano e, eventualmente, o ainda não aprovado Acordo de Livre Comércio colombiano em um todo homogêneo.

Em outras palavras, enquanto o restante da América do Sul se retira da órbita dos EUA (algo que, eu diria, é um evento histórico mundial tão importante quanto a queda do Muro de Berlim, mas menos notado, pois aconteceu ao longo de uma década, e não em uma só noite), Washington se entrincheira no que restou de seu quintal. Hoje, no The New York Times, Geoffrey Wheatcroft escreveu um interessante artigo de opinião que lê os acontecimentos no Egito como parte de um recuo mais amplo do poder dos EUA no mundo.

Sem dúvida outro sinal desse recuo é o entrincheiramento que vai do México à Colômbia: incapaz de garantir seus interesses e projetar seu poder por toda a América Latina por meio de uma mistura de políticas moderadas e duras, Washington retornou, por falta de opção, se não deliberadamente, a algum conceito pré-moderno de segurança no estilo "proteger o flanco". Washington está construindo um fosso ao redor de uma fortaleza sitiada chamada América.

No ano decorrido desde que escrevi aquele artigo, ocorreram alguns eventos que impulsionaram a construção desse corredor de segurança. Entre eles estão: uma nova proposta para um "Plano América Central", que juntaria o Plano México e o Plano Colômbia, criando "sinergias", como descreveu um funcionário do governo dos EUA; um programa pelo qual a Colômbia treina a polícia mexicana para combater gangues, instrução que poderá em breve ser estendida a países da América Central; um compromisso cada vez mais forte com a Academia Internacional para o Cumprimento da Lei, baseada em El Salvador e financiada por Washington, que os críticos descrevem como uma nova Escola das Américas; o uso de bases aéreas no Panamá e em Honduras (pós-golpe) para lançar aviões teleguiados norte-americanos; e a construção de ainda mais bases militares dos EUA. Para ter uma imagem gráfica do "corredor de segurança", confira este mapa criado pela Irmandade da Reconciliação, onde a América Central parece ter sido transformada em uma grande pista de pouso.

O excelente blog Hemispheric Brief, de Josh Frens-String, que todo dia reúne e analisa incisivamente notícias envolvendo a América Latina, tem alguns posts sobre o tema. Outra grande fonte de notícias e análises é o Congresso Norte-Americano sobre a América Latina, ao lado do Programa das Américas, particularmente os artigos e o blog de Laura Carlsen.

A origem desse corredor de segurança é o Plano Colômbia - o multibilionário programa de Bill Clinton de ajuda a um dos piores violadores de direitos humanos do mundo. O principal efeito do Plano Colômbia foi diversificar a violência e a corrupção do tráfico de cocaína, com cartéis e facções militares centro-americanas e mexicanas assumindo a exportação da droga para os Estados Unidos. Isso, somado às perturbações econômicas provocadas pelo Nafta e pelo Cafta, desencadeou o ciclo de crimes e violência de gangues que hoje assola a região.

A violência, por sua vez, é acelerada pela rápida disseminação de operações de mineração, energia hidrelétrica, biocombusíveis e petróleo, que devastam os ecossistemas locais, envenenando a terra e a água, e pela abertura dos mercados nacionais à agroindústria norte-americana, o que destrói as economias locais. O deslocamento que se segue cria diversas ameaças criminais que justificam medidas de contra-insurgência mais duras, ou então provoca protestos, recebidos com novos modelos de esquadrões da morte.

Como na Guerra Fria, a união de forças de segurança e inteligência regionais sob a bandeira de uma cruzada mais ampla, internacional, cria o "ambiente hostil" no qual florescem os esquadrões da morte. No entanto, de algum modo, os esquadrões da morte de hoje se tornaram legítimos: eles agora são chamados de "companhias de segurança privada", algumas formadas por ex-paramilitares colombianos.

O grupo canadense Rights Action documentou um claro padrão de avanço da repressão em toda a região, grande parte ligada à produção de biocombustíveis e à mineração, o que inclui um aumento dos assassinatos de camponeses por esquadrões da morte em Honduras.

É melhor pensar no "corredor de segurança" do México à Colômbia não como uma iniciativa de defesa, e sim como um guia para criar uma máquina perfeita de guerra perpétua.

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