domingo, 27 de fevereiro de 2011

Kassab convidará Aécio para novo partido; PSDB, DEM e PPS murcham

O senador Aécio Neves (PSDB-MG) será convidado para ingressar no partido que o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, atualmente no DEM, pretende criar. Logo após o dia 15 de março, quando os “demos” definem seu novo presidente nacional, Kassab deve anunciar a fundação da nova legenda, que será chamada de Partido Democrático Brasileiro (PDB).

O deputado federal paulista Eleuses de Paiva (DEM), um dos interlocutores do prefeito paulistano, confirmou que Aécio será convidado, caso o novo partido seja mesmo criado nos próximos meses. "Se houver (a criação da legenda), a tendência é procurarmos os melhores quadros. E Aécio será um dos primeiros a ser procurado, senão o primeiro", disse o parlamentar.

Segundo Paiva, Kassab espera apenas a definição do quadro interno do DEM para anunciar seu destino. O prefeito está em rota de choque com o atual presidente da sigla, deputado Rodrigo Maia (RJ), e avalia três situações. A primeira e menos provável é sua permanência no DEM. A segunda é criar sua legenda e fazer com que ela cresça com o apoio de outros “demos” insatisfeitos, além de tucanos, peemedebistas e membros do PR, PP e do PTB. Já a terceira via, que foi confirmada por Eleuses Paiva, seria criar o PDB para fazer a sua fusão com outro partido – possivelmente o PSB.

No último fim de semana, Kassab esteve reunido com o presidente nacional do PSB, o governador de Pernambuco Eduardo Campos, que é muito próximo de Aécio. Na pauta do encontro estavam a criação do partido e a possível incorporação dos socialistas. As negociações teriam a anuência da presidente Dilma Rousseff.

Kassab também teve uma longa conversa secreta com as principais lideranças do PSDB-SP – o governador paulista, Geraldo Alckmin (PSDB), e o ex-governador José Serra. Ambos os tucanos se uniram, semana passada, em uma empreitada que varou a noite: tentaram demover o prefeito de entrar no PSB, principalmente pelas mãos de Eduardo Campos. “Ele é charmoso, mas não vale uma nota de três dólares”, teria frisado um dos presentes.

Os peessedebistas lembraram a Kassab que ele continua com um bom tempo de televisão pelo DEM, em São Paulo – e que é nisso que estão interessados. E mais: no raciocínio dos tucanos, qualquer movimento partidário feito hoje inevitavelmente o levará em direção ao governo federal.

Kassab tem como principal objetivo uma candidatura ao governo de São Paulo, em 2014, e estima ter ao seu lado, para a fundação do novo partido, 20 deputados federais – sendo oito paulistas. O vice-governador de São Paulo, Guilherme Afif Domingos (DEM), será outro convidado para integrar os quadros da legenda. A exemplo de Afif, a senadora Kátia Abreu (TO) deverá trocar o DEM pelo PDB.

Para criar o partido, Kassab terá que recolher 490 mil assinaturas e obter registro no TSE. Também é necessário ter número de filiados equivalente a 0,5% da votação geral para deputado federal. A estratégia do prefeito é conseguir adesões para sua nova legenda em São Paulo e em outros quatro estados – entre eles Minas Gerais, Rio de Janeiro e dois do Nordeste, a serem definidos.

Segundo aliados de Kassab, a maioria dos oito deputados federais por São Paulo deve seguir o prefeito, à exceção de Jorge Tadeu Mudalen (2º secretário da Câmara) e Alexandre Leite. Mas, ao que tudo indica, o PDB não provocará desfalque apenas entre os “demos”. Será também o destino de parlamentares insatisfeitos, especialmente da oposição, interessados em migrar para a base de apoio ao governo Dilma.

Confirmada a promessa de Kassab de levar ao menos 20 deputados para uma frente parlamentar em sociedade com o PSB, o bloco será a quarta maior força da Câmara. Segundo articuladores do movimento, o PPS, por exemplo, corre risco de perda de quatro dos 12 deputados, sendo dois deles da bancada paulista. A criação da sigla poderá sangrar partidos da base de Dilma, como PR, PTB e PP. Em São Paulo, pelo menos dois vereadores do PSDB deverão se filiar ao PDB.

A articulação impôs ainda mudanças no xadrez político do estado. Hoje no PSB, o deputado federal Gabriel Chalita abriu negociação com o PTB. Outro integrante do PSB interessado em concorrer à prefeitura, o presidente da Fiesp (Federação das Indústrias de São Paulo), Paulo Skaf, candidato do PSB a governador nas últimas eleições, flerta com o PMDB.

A cúpula nacional socialista não está lá muito disposta a entregar a Chalita a vaga de candidato a prefeito da capital. Tanto Skaf como Kassab sinalizaram que não querem o fortalecimento do deputado. O PSB também não vê com bons olhos a proximidade do deputado com o tucano Geraldo Alckmin.

A saída da senadora Kátia Abreu já era esperada pela cúpula do DEM. A desconfiança foi reforçada após o alinhamento com o governo na votação do mínimo. Na quarta-feira, ela se absteve, enquanto seu partido defendeu um valor maior do que os R$ 545 aprovados. O filho da senadora, o deputado federal Irajá Abreu (DEM-TO), deverá acompanhá-la.

“Nesse momento não, mas estou muito desconfortável no meu partido. Não estou bem lá, não estou feliz”, afirma Kátia. “Quase metade do partido está se sentindo desconfortável. Mas ninguém está com decisão tomada”, agrega. Segundo a senadora, “a oposição está na UTI”.

O novo partido de Kassab deve ser fundido futuramente ao PSB. Mas nem todos os filiados ao PDB serão obrigados a integrar o movimento. No momento da fusão, eles poderão procurar outra legenda. É o caso de Kátia Abreu, cujo destino final tende a ser o PMDB, e não o PSB. A filiação a uma legenda "socialista" dificultaria o plano da senadora por Tocantins de permanecer à frente da CNA (Confederação Nacional da Agricultura).

Em resposta às movimentações, o DEM já está com dois pareceres jurídicos contrários à operação. Além disso, do PMDB ao PSDB, todos os interessados em estragar o casamento de Kassab com o PSB manifestam nos bastidores a convicção de que não será fácil fazer a Justiça Eleitoral engolir o novo partido.

O questionamento não viria na criação, mas em seguida, quando da fusão com a sigla de Eduardo Campos. Não faltam descontentes dispostos a provocar o TSE. Mas especialistas em direito eleitoral ouvidos por Kassab desdenham desse risco. Alegam que não cabe ao tribunal analisar o propósito da criação do partido.

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