segunda-feira, 7 de junho de 2010

O ladino vence os espertos

do blog da Ruth Bolognese

Apesar das grosserias espontâneas do titular, o governo Roberto Requião sempre cultivou um lado intelectual a lá esquerda esclarecida, onde cabiam cavalgadas matinais pelas colinas do Canguiri, tintos finos à mesa e discursos inflamados baseados na Carta de Puebla. Distante da moderna sofisticação dos tempos do governo de Jaime Lerner, é verdade, quando se falava naquele bistrô parisiense com a mesma intimidade do bar do Stuart. Mas em nenhum destes dois mundos, o veterinário Orlando Pessuti, devoto de Nossa Senhora, nascido na gleba Centenário, Noroeste do Paraná, segunda voz nos duetos sertanejos, circulou com muita desenvoltura. Nos sete anos em que foi vice, ao invés de citar trechos da Carta de Puebla, preferia falar no leitinho das crianças distribuído pelo Governo e nunca escondeu de ninguém que se sentia em casa, mesmo, era ali por Itaperuçu da Serra ou Pérola do Oeste. Bem resolvido na própria condição de homem do Interior do Paraná. Mais do que isso,usou a aparente desvantagem diante dos “curitibanos da cepa” como ponto a favor e nunca perdeu uma eleição.

Mas dois meses apenas de exercício do poder foram suficientes para mostrar que o “Homem do Interior do Paraná”, com jeitão de bom moço cordial, está deixando a esquerda esclarecida roendo as unhas. E depois do rápido acerto da multa do Banestado em Brasília, o que sobrou daquela direita lernista sofisticada anda meio constrangida por aí. Que bistrô da Provence, que nada!

Foi nesta semana, porém, mais precisamente na quarta-feira, que Orlando Pessuti confirmou aquilo que muita gente já desconfiava, outros até previam, e os mais próximos tinham certeza: é homem do Interior, sim, formou um governo meio jeca, é verdade, mas é ladino o suficiente para dar umas rasteiras nos mais espertos. Foi a Brasília, cantou música popular das antigas em dueto com Lula no gabinete presidencial (onde Roberto Requião cuspiu caroços de mamonas assassinas) e voltou mais candidato ao Governo do que nunca. Para quem assumiu o mandato-tampão de Governador com fama de pau-mandado de dona Regina, uns pingados 5% de preferência do eleitorado, sob a sombra de Roberto Requião que, segundo a lenda urbana, não deixa crescer nem urtiga ao redor dele, que dirá candidatos em potencial, e um PMDB amestrado, o feito brasiliense é para comemorar.

Na história recente da política do Paraná não se tem notícia de um candidato, Orlando Pessuti, com apenas 5 ou 6% da preferência dos eleitores, que saia na cabeça de chapa deixando ao léu outro com quase 40%, o senador Osmar Dias. Mas quem disse que lógica funciona para a política? Se isso é bom para o Paraná, para a disputa que se aproxima, se vai dar de bandeja o governo do Estado para o tucano Beto Richa ou se Requião corre o risco de perder a vaga para o Senado, são outros quinhentos. O fato é que o ladino Pessuti está na área. E está para ficar.

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