terça-feira, 19 de julho de 2011

Sean Hoare, a morte inevitável

sapo.pt

Sean Hoare, jornalista de celebridades da televisão e do espectáculo, encontrado morto no seu apartamento, foi descrito pelo colega Nick Davis, do jornal The Guardian, como «um homem adorável».

Hoare ficou também conhecido por ter sido o primeiro a denunciar publicamente o caso das escutas ilegais no News of the World, pelo que a notícia da sua morte levantou imediatamente suspeitas.

A polícia lançou um comunicado afirmando que, embora não exista ainda uma explicação para aquela morte, também não existe qualquer indício de que se tratou de uma «morte suspeita».

Os mais chegados a Hoare poderiam defini-la como uma morte inevitável.

O excessivo consumo de álcool e drogas deixaram-lhe o fígado à beira do colapso. Mas até estes vícios Hoare associou às práticas do The Sun e do News of the World, dispostos a conseguir uma história a qualquer preço.

«Eu era pago para tomar drogas com as estrelas de rock – embebedar-me com elas, tomar comprimidos com elas, ‘snifar’ cocaína com elas», contou Hoare. «Era tudo muito competitivo. Fazíamos coisas que estão muito para além do cumprimento do dever. Fazíamos coisas que nenhum homem mentalmente saudável faria.»

E tudo por uma boa história. Não importava quais os meios utilizados, desde que essa história pudesse ser contada. O editor-chefe de Hoare no News of the World, que também o chefiara no The Sun, não queria saber de mais nada a não ser das histórias.

De certa forma, este filho da classe média britânica deixou-se atrair pelas luzes da ribalta e pelo tipo de vida privilegiada que manteve enquanto repórter de celebridades, mas foi arruinando por completo a sua saúde física.

Era um bom repórter, apesar de tudo; os colegas recordam-no como alguém capaz de «sacar boas histórias», mas que não tinha um estilo agressivo: «ele podia iluminar um candeeiro só com a sua conversa, era um tipo caloroso, simpático».

Aos colegas mais chegados, Hoare confessou que o seu dia começava com um pequeno-almoço à estrela de rock: uma linha de cocaína e uma garrafa de Jack Daniels. Ao todo, consumia três gramas de cocaína por dia, enormes quantidades de álcool.

Quando o problema com as bebidas e a droga se agravaram, Hoare foi despedido pelo mesmo editor do News of the World que o incentivava a fazer o que ele quisesse e como quisesse, desde que «trouxesse a história».

A última vez que foi visto com vida encontraram-no num clube nocturno, de joelhos, procurando qualquer coisa no chão: tinha deixado cair a cocaína. O editor do Daily Mirror que o viu disse-lhe «Esse não é o comportamento que se espera ver de um jornalista veterano de um grande jornal», mas Hoare, desesperado, só lhe conseguiu responder: «Tens alguma merda de uma droga?»

Entretanto, o fígado definhava. Estava em tão mau estado que um médico lhe disse que tinha sorte em ainda estar vivo. Foi por esta altura que o News of the World o despediu: já não tinha saúde para continuar a fazer parte «da máquina», como Hoare lhe chamava.

E foi-se, finalmente, no dia de hoje, 18 de Julho. Deixou este mundo - sem emenda possível. Mesmo quando era evidente para todos o estado lastimoso em que se encontrava, Hoare dizia: «Eu já deixei de beber, mas depois tratei-me com vinho tinto».

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